Manifesto Periférico – Nanda Fer Pimenta
Fernanda Ramos Pimenta, também conhecida como Nanda Fer Pimenta (Canavieiras – BA, 1992), poeta, negra, design de moda, escritora, empreendedora, multi artista. Tem pela editora padê o seu primeiro livro lançado, intitulado Sangue ( outono de 2018).
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5ª
amores. fissuras. dores.
ardores. que se costura.
no amor. amargo.
amargura. fissuras.
…………
*
29ª
faço amor lentamente
para sentir todas as dobras
se encaixando
splash splash splash
é o barulho gostoso
do entra e sai
chuú chuú chuú
o esfrega esfrega
dos pelos
pelos anus
pelos xana
pelos pau bola
pelos pelo corpo
suor seu gosto
gostoso
teu cheiro
sexo trepada transada
amor
*
(sem título)
Eu não me quero
não me quero corpo marcado de dor, dor essa feita por quem diz que me quer amor
Eu não me quero
não me quero entre noites corpo sem amor, corpo entregue ao não desejo
Eu não me quero
não me quero vazia, murcha úmida de tanta água salgada amarga que corre dos meus olhos e salga o meu peito meu ser meu fogo
Eu não me quero
não me quero sem firmeza no olhar, sem certeza da minha felicidade, com um furo no peito, morrendo aos poucos aqui dentro
Eu me quero
me quero, presença de mim mesma, peito palpitando com sorriso frouxo, ver o reflexo de mim mesma no caminhar das minhas realizações,
Eu me quero, eu me quero
*
Iris
Amanheço em mais um dia com diversos medos e realizações, me olho me vejo, estou sozinha sempre sozinha. E mesmo assim tenho medo de me perder, será porque, será que tenho medo de quem eu possa ser e ainda não sei, quantas vezes deitei e vi o dia amanhecer me perguntando quem sou eu, e então apago, sinto que me perdi me entreguei, mas ainda estou aqui, sinto meu corpo adormecer, meu corpo ficar leve quase voar pelo mundo.
Parece uma chuva de objetos caindo de algum lugar, uma atmosfera densa e colorida, meu corpo parece que se desfaz, se desmancha em partículas diversas aos poucos.
E então re apareço, onde não sei, e nem sei quem sou, mas é muito bom e gostoso.
Escuto palmas, não sei se eu to no sonho, ou acordada, só sei que eu já estou na porta, pronta para perguntar quem é.
– olá quem é?
– licença me chamo ( ruídos diversos saem da boca dessa pessoa, não entendo nada, apenas abro a porta)
– pode sentar, quer uma água ?
– obrigada, sim por favor, do filtro!
– copo de vidro ou de plástico?
– vidro, por favor!
vou caminhando até a cozinha, escuto latidos, mais não entendo porque ouço, não tenho cachorros, o som vai ficando próximo, minha respiração altera, e não entendo o que está acontecendo, meu corpo começa a se desfazer novamente e tudo fica denso e o ar fica apertado, difícil de respirar.
– Iris, conseguiu ?
– desculpa, o que?
– Você conseguiu falar com ele, o que ele disse?
– eu acho que não consegui, se for o que to pensando, eu não consegui entender nada, e quando estava voltando para a cozinha escutei alguns latidos e voltei aqui, só escutei ruídos
– E agora, se nem você está conseguindo entender a mensagem, quem mais vai entender, você acredita em você?
– Acho que sim, porque
– então volta!
uma sirene muito forte, uma vazio, uma força muito forte, um cheiro forte de ferrugem gritos, sinto balançar o meu corpo
– HÁÁÁÁ porque? porque? por favor não deixe ela morrer!
será que eu fiz algo, não consigo ver nada, ta tudo estranho, só escuto, não vejo nada, e esse cheiro forte de ferrugem.
– não devia ter deixado ela sozinha
O som da sirene fica mais agudo e forte, sinto meu coração bater muito forte e consigo abrir os olhos e meu corpo começa a debater, uma mulher vem na minha direção e grita
– Filha, por favor não vai a mamãe ta aqui
em meu pensamento vem o questionamento Filha?
quem sou eu, quem sou eu ?!
meu coração parece que vai explodir, não sei se de dor ou de sentimentos, é muito forte e prazeroso. começo a rir muito muito e nada faz sentido, mexo os lábios mas parece que minha voz não sai, tá tudo vazio e quente.
– Íris, a vida é possível!
gesticulo com os lábios, nada sai, eu só quero ir, me deixa, não sei pra onde, quero ir tá tão bom.
Sons diversos de latidos, um vento muito forte, o som do vento em meus ouvidos zunindo uma alegria que parece não caber no meu peito.
Enfim, me preparo, o peso some, será que consegui? era isso que eu queria? Consegui!
Me sinto tudo e nada ao mesmo tempo, a razão desconheço, conexão ar e terra parece mais forte.
Ouço um estouro, respiro profundamente, algo se corta. – Iris, vai se chamar Íris!
*
Assossega teu corpo
fecha teus olhos
abre tuas fendas
fecha teus olhos
veja sua fendas
fecha teus olhos
entre nas suas fendas
fecha teus olhos
e não se afogue
não se afogue
em suas fendas
abre teus olhos
dentro das suas fendas
veja, ta tudo bem,
pra que o medo?
você se sabe
você sabe
cura tuas fendas
com suas águas salgadas
é necessário salgar
salga, salga salga
abre teus olhos e
veja, o problema é aqui
acredita na terra
acredita no seu passado,
diverso em vida em morte
fortaleça a palma da tua mão
acredita em sua intuição
carrega tua força
enraíza suas mãos
as linhas,
são seivas, se nutrindo
a terra é força, ancestralidade
a terra troca transforma energia,
não existem acúmulos,
vai com a terra,
essa é sua nova era
mira tua seta
você guia a sua seta
o tempo é seu.