“Missivas” – Por Aline Wendpap
Missivas
(De: Caroline Araújo e Mauricio Pinto)
Por: Aline Wendpap
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Este não é um filme apenas sobre o passado, ele é também sobre o futuro. Pois, apesar de contar a história de Jane Vanini, uma guerrilheira que lutou contra a ditadura no Brasil, faz uma interconexão com o próprio diretor e sua militância, que ganha maior sentido em 2013, quando ele se depara com a cacerense desaparecida no Chile.
É um documentário repleto de silêncios. Silêncios talvez dos que foram silenciados pelos regimes antidemocráticos do passado e que insistem em querer retornar das maneiras mais estapafúrdias.
Eu tive a honra de conhecer este projeto desde sua concepção, quando nos idos de 2013 estive como professora substituta no curso de Radialismo da UFMT, e Maurício compartilha comigo sua surpresa em saber que havia uma revolucionária nascida em Cáceres-MT e tida como desaparecida no Chile. Desde então torci para que ele conseguisse executar este projeto, para que mais e mais pessoas tivesse acesso a essas informações, tão apagadas do imaginário brasileiro.
Uma das perguntas que move este telefilme – produzido a partir de recursos da Ancine, em parceria com a Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) – é: “Porque se mobilizar?” A partir deste mote vamos acompanhando o percurso de Jane Vanini, desde sua infância em Cáceres, até a maturidade (e eu diria triunfo) no Chile, em paralelo com o percurso do idealizador do projeto e da equipe integralmente mato-grossense que dá vida, de maneira excelente, à produção.
Por falar em equipe há que se ressaltar o trabalho de fotografia, som e de animação. Aliás, as animações são responsáveis por nos fazer experimentar visualmente a impactante cena do embate final entre Jane e o exército chileno. O que me faz recordar algumas palavras de Didi Huberman para quem “o passado se torna legível, logo conhecível, quando as singularidades aparecem e se articulam dinamicamente umas com as outras – pela montagem, escrita, cinemática – como tantas imagens em movimento a imagem é a dialética em repouso. ”
Tanto é assim que há várias cenas simbólicas, uma delas é a do depoimento de Rosita em que a imagem de Jane Vanini aparece um quadro enorme e em frente a ele um pequenininho de Che Guevara.
Primoroso em cada detalhe é um filme para ser visto e revisto por espectadores de todas as idades, que desejam um encontrar um motivo para se mobilizar. E, enquanto isso vai acontecendo eu fico aqui com o desejo e a esperança de que mais e mais pessoas se mobilizem o tempo todo, como Jane, Mauricio, Carol e toda e equipe contra as injustiças e opressões que não cessam de atentar contra a democracia.