Notas sobre um fevereiro sem carnaval
TRAVESSIA é coluna reservada a poeta de mão cheia, Sílvia Barros. A periodicidade é quinzenal, preferencialmente às terças-feiras, mas isso não é regra, só os 15 dias. O objetivo do espaço é jogar luz sobre as intercessões presentes na relação entre conhecimento acadêmico e saber ancestral. Boa leitura!
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Ainda estamos com vida?
A vida é uma hipótese que não podemos descartar.
Entre a herança e o legado
Muito cedo eu aprendi que a grande obra literária é aquela que continuaria a ser lida e reverenciada para além do seu tempo; que os bons autores seriam aqueles lembrados por gerações e gerações. Fui apresentada aos grandes patronos e seus desejos de deixar herança e patrimônio simbólicos e materiais. Nessa ilusão branco patriarcal não existe Maria Firmina dos Reis nem Carolina Maria de Jesus. E dessa ilusão não morro, porque acredito que somos a ponte entre a herança e o legado. Se me fizeram acreditar na necessidade de escrever uma grande obra imortal, eu opto pela integridade da jornada e pelo percurso de escrever o que preciso escrever agora e dialogar com quem preciso dialogar agora.
Anticarnaval
Anticarnaval é não ter vacina, é querer ter alimento pra corpo e pra alma e encontrar bala e arma. Anticarnaval é o ódio às mulheres, a seus maiôs, biquínis, ideias cobertas de gliter e leite materno. Anticarnaval é desprezo aos corpos dissidentes e às sexualidades dissonantes. Anticarnaval é apagamento dos valores de rua e da espiritualidade de terreiro. Anticarnaval é antibicho, antiplanta e antigente.