Nove poemas de Matheus Dias Freitas
Matheus Dias Freitas escreve poesia, atua como professor de inglês e é publicitário pela Faculdade Cásper Líbero (SP). Em versos inversos, do caos à contemplação, medita no silêncio que vem depois do poema.
blog: https://oscaesfarejamtodososcantos.wordpress.com/
instagram: https://www.instagram.com/poesialevesolta/
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queria ser cool & calm
face ao impasse
num planar de asa aberta
abraçar o esboço feito às pressas
nas trincheiras que transbordam
quando a chuva perde a hora
de ir pra casa
o agora é piscina rasa
um sorriso em giz de cera na parede
com traço tremido
vibrante
flutuam as vinte e quatro horas do dia
os trezentos e sessenta e cinco dias do ano
flutuam os pensamentos na cabeça
conversam com os dias e as horas
as folhas do outono escorregam
colorem-se os vasos
céu azul-marinho e azul-claro
o registro mais preciso de um instante é um instante
*
cruza-se o mundo
e não se chega nem perto
inalcan çável
efêmero
e se ninguém nunca viu,
inédito
não se guarda a brisa nos bolsos
cruza-se o mundo
e o fazemos para não chegar a lugar algum
aos pés
basta o conforto
dos sapatos
– ou a leveza de não os calçar
não se sopra de fora pra dentro
mas é difícil assimilar essa verdade como toda verdade é difícil assimilar
vai pra onde?
perguntam
e quem se importa?
um dia
alguém há
de responder
*
eu escrevo poemas
eu escrevo poemas
efervescendo em pensamentos
sem ritmo e sem rima
ou em ebulição febril
no frenesi extasiado
rabo de cachorro ao ver o dono
uma insistência de minha parte
ideia fixa a arder em brasa
terapia na ponta da caneta
as palavras a guiar
constelações aos marinheiros
em uma noite sem nuvens
feixe de luz que alaga os dias
verdade sublimada em versos
pintei os dedos ao tocar o céu azul
melodia silenciosa
soar dos passarinhos
quando ainda é madrugada
a gente cansa de falar
e não diz nada, enquanto isso
eu escrevo poemas
*
quando a gota d’água consome a página
e a tinta expressa no papel mancha os dedos
quando formas viram cores
e os medos
viram flores
houve um dia em que se atrasaram os relógios
noites passadas em claro
porém, amanheceram as ruas
e suas calçadas lavadas
nos fizeram apertar os olhos
pois refletiam a luz do sol
*
Na corda bamba
das indecisões que não levam a nada,
se equilibra o sujeito
que vive a segurar o corrimão
mesmo sem escada
*
horizontedifício
o início do início
e o meio do caminho
o cansaço
e o passo a passo
acaso é achar
que é por acaso
*
Na cabeça,
um cabideiro de afazeres,
onde pendurou mais um.
Podia o dia ter mais horas,
mas nunca há tempo o bastante
pra quem deixa pra depois.
*
As árvores que não plantei.
As árvores que plantarei.
Sempre penso sobre elas,
em vez de plantá-las.
*
Me calo
e o silêncio
me pega no colo.