Oito poemas de Eduard Traste
Eduard Traste, coautor do livro estrAbismo (Editora Viseu, 2018), descobriu que não tinha salvação. Desde então vem destilando os necessários pingos de vida para seguir em frente, de seus escritos e outros tragos. Escreve no projeto www.estrAbismo.net, e tem materiais publicados em periódicos diversos, entre estes: Aboio, Alagunas, Amaité Poesias & Cia, Arribação, Escambau, Gazeta de Poesia Inédita, InComunidade, LiteraLivre, Literatura & Fechadura, mallarmargens, Olho Vivo, Pantagruelista, Philos, Ruido Manifesto, Subversa, Via Lateral, Jornal Plástico Bolha e Jornal RelevO.
***
de repente
tudo faz sentido
nada mais importa
só
o silêncio ecoa
de repente
o poema nasce
de repente
o poeta cisma
antes da rima
do poema
antes
da vida
seu dilema
de repente
o poema morre
renasce
miraculoso enlace
de repente
o poeta declina
o poema termina
com ou sem rima
só
de repente
*
uma verdade
tudo em mim soa assim
desagradável, sim
mas vou mentir
pra mim? seguir assim, eu
por mim desejo que meu fim
seja assim, nesta linha verdadeira
eu por mim e minha vida,
inteira.
*
do suicídio alegre
oferecer ao Sol
a superfície da pétala
que ainda é flor
*
semimorto
ela troca o saco de lixo pela sétima vez
hoje. quando duas já seriam suficientes
espera que ele a note mas ele
não consegue vê-la
semimorto, permanece
online.
*
fantascópio
alongo mentalmente
para um dia imaginário
um morto feito
preparado para o Sol
que nunca chega
que lá fora brilha feito vida
imagina-se ainda
instigando aqui dentro
o ser apagado
esquecido, tolhido
nas sombras
da vida, das vidas
pouco resta,
pouco resto,
transpondo paredes
nuas, nu
quero absorver
quero ser absorvido
quero sentir algo
preciso
estou cansado de ser
quem tenho
sido
*
resumo de vida
encontrei um telefone
tocando no meio do nada
quando atendi, desligaram
era engano.
*
martelando
feito flores na janela
entre o céu e o inferno
minha mente tem frequentado
os dois lados da mesma moeda
sem saber jamais
qual é
qual?
problema? nenhum!
os altares são similares
e tão vazios quanto os ídolos
que permanecem mortos
atrasando os pequenos seres
vivos?
no fim do dia
o sol se põe para todos
e as flores adormecem
estejam elas onde
estiverem.
*
de um inferno ao outro
antes eu sempre sabia
quando o capiroto me espreitava.
agora vivo na dúvida: é ele
ou a debochada da minha vizinha
outra vez
de tamancos
novos?
ana
show demais