Ping Poesia 1 – Andri Carvão e José Danilo Rangel
Inauguramos agora uma série diferente de curadorias na Ruído Manifesto, com os poemas do Ping Poesia, projeto idealizado por Andri Carvão, Noélia Ribeiro e José Danilo Rangel, que originalmente consiste na gravação de um vídeo com uma dupla de poetas fazendo um rápido ping-pong com trechos de seus poemas. Aqui, na Ruído Manifesto, as leitoras e os leitores poderão ler os poemas utilizados na íntegra e também assistir ao vídeo, veiculado inicialmente na página (https://www.facebook.com/pingpoesia/). Desta primeira edição fazem parte os poetas Andri Carvão e José Danilo Rangel.
Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, há colaborações do autor em diversas revistas e antologias. Suas últimas publicações foram Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books] e Poemas do Golpe [editora Patuá]. Integra o Coletivo de Literatura Glauco Mattoso, criado pelo profº Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, apresenta poetas e poetos no Simpósio de Poetas Bêbadxs em parceria com Thiago Medeiros e é um dos idealizadores do Ping Poesia, junto com Noélia Ribeiro e José Danilo Rangel.
José Danilo Rangel nasceu em Itaitinga, interior do Ceará, em 1984. Em 1993, mudou-se, com a família, para Porto Velho, Rondônia. Embora gostasse muito de ler, detestava a poesia. Muito literal, não entendia o motivo de alguém “dizer uma coisa querendo dizer outra”. Em 2006, contudo, apaixonado, escreve um soneto. E o declama. Começava ali a relação que dura até hoje, entre ele, a poesia e a musa. De lá pra cá, participou de muitos saraus, editou uma revista digital e teve poemas publicados em diversas coletâneas. Atualmente, produz zines e cordéis, distribui “livrinhos de poesia”, no projeto “Poesia Grátis” e mantém perfis literários nas redes sociais. Todo domingo, em sua página do Facebook realiza a live “Poeta ao Vivo”, onde lê poesia, indica livros, entrevista convidados, etc.
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Sequência de Andri Carvão
Poesia não dá camisa?
Não enche a barriga?
Depende do tamanho
da sua lombriga.
*
A poesia tem que explodir as cabeças.
*
Meus poemas fazem o maior sucesso
quando estou em casa
sozinho.
*
Somos muitos e sós,
sós e mal acompanhados.
Ovelhas desgarradas
formam rebanhos
de ovelhas desgarradas.
*
Era uma vez
até que um dia
todos viveram felizes para sempre.
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Sequência de José Danilo Rangel
O PASSADO PRESENTE
Nem tudo que passei,
passou.
Em algum lugar do tempo,
eu ainda tento e, pra sempre,
em vão,
Ainda procuro uma saída,
mas sinto que vou passar
a vida
nesse labirinto.
Em algum lugar do tempo,
eu ainda dou de cara
com o impossível,
Montanhas que não
posso escalar, abismos
de onde não posso
escapar.
Em algum lugar do tempo,
eu ainda grito súplicas
pra deuses surdos
E no meio de muitos
absurdos, ainda tô à espera
de ser salvo.
Em algum lugar do tempo,
lugar aqui de dentro,
ainda tá escuro
E eu choro
sem esperança
Como que
pra sempre.
*
SE NÃO FOSSE A DOR
01.
A dor não nos ensina;
Esmurra a nossa cara
e exige
uma resposta.
É assim que
o sofrimento
“educa”
E tem gente que
agradece…
02.
De vez em quando,
escuto:
“Isso doeu bastante,
mas me ensinou
uma grande lição.”
Tá errado!
03.
A gente não quer admitir
que apanha à toa e sem
merecer,
Quer acreditar
que doeu, porque tinha
que doer,
Que tinha que doer
pra aprender,
Não tinha.
04.
Se durante a queda,
alguém fez asas
E voou,
O mérito do voo
não é do vão,
É das mãos
de quem se fez
alado.
05.
Mas sempre tem um
pra dizer,
“Se não fosse a dor…”
Como se fosse
pro bem de alguém
doer.
Não é…
*
A vida tem sempre
um ferro quente
pra marcar a gente,
Mas há também
perfumes.
*
Tem peso
que é
asa.
*
Depois
ainda seremos nós,
Mas
já seremos outros.
**
Agora, assista ao vídeo: