Ping Poesia 3 – Maya Falks e Andri Carvão
Trazemos hoje mais um episódio da série de curadorias com os poemas do Ping Poesia, projeto idealizado por Andri Carvão, Noélia Ribeiro e José Danilo Rangel, que originalmente consiste na gravação de um vídeo com uma dupla de poetas fazendo um rápido ping-pong com trechos de seus poemas. Aqui, na Ruído Manifesto, as leitoras e os leitores poderão ler os poemas utilizados na íntegra e também assistir ao vídeo, veiculado inicialmente na página Ping Poesia. Desta edição fazem parte a poeta Maya Falks e o poeta Andri Carvão.
Maya Falks nasceu Márcia no dia mais frio de 1982. Começou a criar histórias aos 3 anos ditando as narrativas à mãe. Escreveu seu primeiro romance aos 7 anos, o segundo aos 10 e a primeira antologia poética aos 14, nenhum deles publicados. Atualmente Maya é publicitária, jornalista e estudante de Letras, além de autora dos livros Depois de Tudo, Versos e Outras Insanidades, Histórias de Minha Morte, Poemas para ler no front e Santuário. Também é resenhista e idealizadora do projeto Bibliofilia Cotidiana e prestadora de serviços no Escritório Literário, onde trabalha com leitura crítica, resenha, release, textos personalizados e ministra oficinas.
Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, há colaborações do autor em diversas revistas e antologias. Suas últimas publicações foram Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books] e Poemas do Golpe [editora Patuá]. Integra o Coletivo de Literatura Glauco Mattoso, criado pelo profº Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, apresenta poetas e poetos no Simpósio de Poetas Bêbadxs em parceria com Thiago Medeiros e é um dos idealizadores do Ping Poesia junto com Noélia Ribeiro e José Danilo Rangel.
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Sequência de Maya Falks
Daqui, de onde só vejo sombras
Não há luz que me penetre os poros
Onde as águas são turvas
Cinzas dos restos de um vulcão adormecido
Daqui, onde sinto a textura das pedras
Não enxergo para além das teias
A vida que segue seu ciclo sem a minha presença
Daqui, onde me encolho cansada
Sinto que os dedos dos pés esfriam a alma
Já não sei se o que escorre é lágrima ou seiva
Tornei-me caverna
*
Chove
Como se cada gota fosse uma lágrima
Do verão que se despede
Chove
Porque os pássaros seguem seu rumo
Perseguindo auroras e crepúsculos
Chove
Porque as plantas se banham
Com o choro dos anjos
*
Os dias eram todos iguais
Como rachaduras das paredes
Que de tempos em tempos
Sambavam no mesmo lugar
Os dias eram todos iguais
Mesmo se lá fora o sol escaldasse
As tintas soltas das paredes
Aqui dentro escorriam as gotas de suor
Da parede enverdecida de musgo
Os dias eram todos iguais
Tais quais as noites que adormeciam
Sonolentas
E com o ronco furioso na garganta
Eu me encolhia em caracol em um
Canto úmido da sala de dormir
Os dias eram todos iguais
Com cheiro de mofo e fome de morte
As minhocas do cemitério entraram
Pelas frestas
E aguardavam a minha hora de dormir.
*
Aos versos
Voltemos aos versos
Às armas que trago comigo
Entre rimas pobres e almas podres
Entre a imensidão do deserto e o oceano
Voltemos às estrofes mal acabadas
Bombardeadas, banhadas em sangue
Da alma inocente desprendida do corpo
Da ferida aberta, da boca gelada
Nas marcas que ficam, voltemos aos versos
Às súplicas de um perdão dispensável
Pelo crime jamais cometido
As balas do meu canhão são feitas de letras
Da pólvora, o cheiro queimado da inspiração
Da ponta da pena a estratégia rimada
Da mão do oponente, meu corpo ao chão
Voltemos aos versos, porque há de ter um belo epitáfio em meu túmulo
*
Sequência de Andri Carvão
Eu não tenho escolha
Eu não tenho saída
É folha e mais folha
Resumindo minha vida
Eu não sou coadjuvante
Nem protagonista
Sou um mero figurante
A perder de vista
*
A música das esferas
Elemento de alta periculosidade à solta – o ar!
Voar alto
não é passar
dos limites.
O negócio é não
fazer sombra
no chão.
Quem cria raízes não alça vôos
: sonhar acordado
em queda livre…
sonhar alto
sem pára-quedas!
E a cada voo rasante
uma queda arrasadora.
*
Revem
Revai
REVOLTA
*
Era uma vez
até que um dia
todos viveram felizes para sempre
*
Agora, assista ao vídeo: