Quatro poemas de Adriane Garcia
Adriane Garcia é poeta, nascida e residente em Belo Horizonte. Publicou Fábulas para adulto perder o sono (Prêmio Paraná de Literatura 2013, ed. Biblioteca do Paraná), O nome do mundo (ed. Armazém da Cultura, 2014), Só, com peixes (ed. Confraria do Vento, 2015), Embrulhado para viagem (col. Leve um Livro, 2016), Garrafas ao mar (ed. Penalux, 2018).
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De dar adeus
Uma ave vem
Todos os dias
Bicar uma parte
Do nosso corpo
Sem anestesia
Costuramos
Novamente
Este braço.
*
Encantamento
Queimei-me em água-viva
Quando tudo o que eu queria
Era apreciar a mágica
De um ser iluminado
A que vi era fosfórea
E eu não ignorava nada
Julgava-me uma sábia
Que tinha a idade do mar
Mesmo assim
Levei a mão.
*
A mulher subindo a montanha
Inda manca
Mas o morro
Não para:
Ou sobe
Ou desaba
Demora o dobro
Agora
Mas leva água
(nesses anos todos
escondeu bicas)
Vai só
Nesse estado não pode
Correr o risco
De outra rasteira.
*
Do que não posso possuir
Remexo os bolsos
Sem a ilusão
Dos trinta dinheiros
A maturidade é a guia da calçada
Onde sentamos
E verificamos a própria pobreza
Sem alarde
De tentar a bolsa
Que por fim resigna-se:
Há moedas emocionais
Que simplesmente
Não temos.