Quatro poemas de Alessandro José Padin Ferreira
Alessandro José Padin Ferreira é poeta, professor universitário e jornalista. Graduado em Comunicação Social, com ênfase em Jornalismo, pela Universidade Católica de Santos, é mestre em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Após anos dedicados à atividade jornalística e acadêmica, retomou os estudos em linguagens poéticas, vem participando de antologias e prepara o seu primeiro livro com poemas.
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CATHERINE
Poema inspirado no filme “A Última Loucura de Claire Darling”
Os objetos em rastros imprecisos
No pó cinza da estante carcomida
Guardam velhos silêncios indecisos
O abortar do querer, fala oprimida
No bem e mal imersos em improvisos
A velha junta os cacos consumida
Nas rugas do rasgar cruel e insensível
Da pele agora nua e segue impassível
*
É O TEMPO
Um brinquedo voraz nutre a memória
É o tempo, ator sutil da boa lembrança
Da má que no sombrar, conta a história
Funde dor, alma e pele, eterna andança
O bilhete no vão da porta esconde
O não dito também, grita o silêncio
É o tempo não solar que luar responde
Tudo é passagem, tal noite em solstício
O vento sopra o verso assim rasgado
Mexido na colher da hora amarga
É o tempo em tom cinza, o choro guardado
Mas chama vem queimar densa fagulha
Noite explode em canção, o medo se encobre
É só o tempo a forjar rubra centelha
*
HOJE NÃO QUERO A NOITE
Quatro da tarde, a noite, no cheiro de chuva, resvala frígida
Com medo, tonto, rápido fecho a cortina
Acendo a luz, travo, a mente desatina
No silêncio agudo da solidão
Peço a Deus, orando rouco na penumbra úmida
Que a noite por hoje se ausente
À Lua, sempre a seduzir, que seja prudente
E que a madrugada não me roube o coração
*
SOMBRA QUE É ESPELHO
Sobe o vapor do café na manhã nublada
O corpo, no meio da cozinha, divide-se
Um dia dentro do dia, 48 em 24 horas
Em que a alma, difusa entre dois mundos
vai experimentar a sombra que é espelho.
A própria mão acaricia a sua outra face
Encanto de encontra-se a si mesmo
Projetado em outra espessa matéria
E um sorriso cúmplice explode em epifania
No descobrir o que, tímido, sempre escondeu