Quatro poemas de Anne Mahin
Anne Mahin nasceu em Cambuquira (MG), mas reside no balneário de Guarapari (Espirito Santo) há 36 anos. Seus textos já foram publicados em jornais, coletâneas e revistas literárias no Brasil e em Portugal. Graduada em Pedagogia e Letras, com especialização em Literatura, lecionou, durante dez anos, nos ensinos fundamental, médio e superior. É membro da Academia Contemporânea de Letras, SP, e da Academia Guarapariense de Letras e Artes. Pela Chiado Editora, publicou os livros Asas do silêncio (poemas e prosa póetica, 2018) e O que se esconde do sol (contos, 2019). Amarelo do ipê, seu próximo livro de poesia, encontra-se em fase de revisão.
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Extrema poesia
Minha poesia é carne e sangue,
sente as dores de peito aberto;
expõe, de um coração roto,
o seu ritmo alterado, incerto.
Mas também é fruto maduro,
em gosto de cura e de alento,
e traz o seu doce perfume
entre alegres sibilos do vento.
Minha poesia é lágrima escorrida,
vulto de assombrosa tristeza,
alarme da despedida premente,
pelo aceno da morte em certeza.
Mas também é voejo de pássaro,
inteira liberdade em pleno infinito,
arpejos suaves de notas solares,
luares de céu estrelado e bonito.
Minha poesia, enfim, se extrema,
de tudo se farta, de tudo é tanto;
não se acomoda, não se aquieta,
transborda no gozo e no pranto.
*
Os dias iguais se repetem,
estendendo as horas
de ausência de vida.
Assim, em perplexidade,
anseio o que sempre tive
e lamento saudade
do que nunca me faltou.
Como não me dei conta
do que realmente importa?
Eu, que acordava manhãs,
só agora desperto.
*
A noite amplifica a solidão
e me enche de silêncios.
Olho janela sem ver.
No vazio do tempo,
busco companhia
nas leituras esquecidas.
Mas os livros permanecem
epitáfios nas estantes,
em inércia de palavras.
Entrementes,
se estou entre paredes,
serei entrelinhas.
E assim me livro. De mim.
*
Na pálida estante de canto,
esquecidos,
também descoram,
de Corbière,
os versos de aguda ironia.
Malditas são as horas mortas,
de obtuso tédio.
Melancolia
sem remédio.
Restam-me as folhas brancas,
de imaturas linhas,
em que escrevo verde
poesia,
valendo-me de miserável rima:
– Tristan, Tristan… hoje é só mais um dia!