Quatro poemas de Bioque Mesito
Bioque Mesito é poeta, nascido sob o sol de aquário em 3 de fevereiro de 1972. Colaborador em diversos jornais de São Luís e, em especial, do Suplemento Literário Guesa Errante (no qual integrou a equipe de redatores durante seis anos). Participante do cenário poético/literário da Ilha de São Luís, desde os anos de 1990, em que integrou o Grupo Curare, um grupo de amigos e de literatura, que demarcou seu espaço na literatura maranhense com exposições, performances, prêmios e livros, em meados da década de 1990. Possui vários prêmios em concursos de poesia em âmbito local, regional e nacional. É autor dos livros de poesia A inconstante órbita dos extremos (Editora Cone Sul-SP, 2001), A anticópia dos placebos existenciais (Edfunc-MA, 2008) e A desordem das coisas naturais (Editora Penalux, 2018).
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reviravolta
as pessoas estão morrendo
vez em quando vigiam suas imperfeições
faltam compromissos indispensáveis
e nem se dão conta que pode ser a última vez
que falam com seus entes queridos
ou renegam os maltrapilhos
as prostitutas
os alcoólatras
em seus mundinhos de festas
a cerca elétrica
o carro com air bag
as câmeras de circuito fechado
em seus condomínios
o diploma na sala de estar
são apenas seduções aparentes
tênues seguranças
estão morrendo
assistindo à tv por assinatura
adorando as paisagens passageiras
dos shoppings centers
não cansam nem calculam que há uma trégua em tudo isso
um equilíbrio descontrolado
que pode atingi-los mesmo em uma balada
às duas da manhã
muitos já morreram
por medo
mas insistem em comprar artigos da moda
em fazer doações
e acham que tudo isso basta
mas o amor já foi embora de seus corações
a imobilidade estacionou
entre seus olhos
as pessoas não acreditam
mas o fim já chegou às suas portas
calculadamente
não adiantam os avanços da tecnologia
nem o seu estilo jesus cristinho de ser
a vida como a conhecemos
será mero artifício
nestes inconstantes dias
*
anti
às vezes o tempo alucina
parte de minhas vértebras
conheço mais beijos selvagens
que suaves segredos
a noite pousa na braguilha
das fêmeas famintas
só há um norte para libido
um pássaro que não quer partir
do rigoroso inverno
me compreende mais que tudo
às vezes uma pausa me basta
*
a mesma química
a nara ferreira
ao caminhar sozinho
aprendi que o amor
é uma simbiose de bocas
o que amamos gruda em nós
felicidade me parece
uma revoada de interrogações
lembro que saudade
não é uma escolha
abre fronteiras em meus amanhãs
meu destino
é beijar as flores
da planta de teus pés
*
cotidianesco
nunca tirei a roupa antes de beber
mesmo que ela não fosse uma dama
sempre me pergunto o porquê
das pessoas se deixarem
há uma fila onde desolações extremas
tangenciam meu beijo libam meu sexo
depois de velhos
rotinas não servem
para desinstalar a discórdia
eu e meu cachorrinho passeamos