Quatro poemas de Gabriel Fernandes
Gabriel Fernandes (12 de dezembro, 1996) é poeta e pesquisador com dois livros publicados: Poeta que pariu (2017), pela editora Essência do Saber, e Terno de reis em (dis)curso – vozes da tradição (2018), uma pesquisa histórica em parceria com colegas pesquisadores. É formado em Letras/Licenciatura Plena Português e Literaturas de Língua Portuguesa pela UNICNEC. Sócio Emérito da Associação dos Artistas Plásticos de Imbé e Tramandaí – Aapit e membro da Academia de Escritores do Litoral Norte Gaúcho – AELN-RS. Atualmente preside o Conselho Municipal da Cultura da cidade onde nasceu, Tramandaí-RS. Profissionalmente, atua como revisor. Comunicador e comentarista cultural de rádio e web TV.
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Ama-me
Em tempo, é preciso que eu diga:
Ama-me. Mas deixa-me livre
Para que eu possa voar e saber o que teu ninho abriga
Ama-me sem temer, com confiança
E nem será preciso te afligir
Ama-me e serás sempre o motivo de minha chegança
Não te preocupes com o tempo
Ama-me e dá de ombros ao relógio
Afinal, é só nele que as horas passam sem lamento
Ama-me num tom alto, sem perder a calma
Grita-me, de um modo surdo ao ouvido e diz:
Amo-te. Diz num sussurro, para que fale à alma.
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Ausência
Te amo, mas deixarei que o tempo passe e que se percam em mim alguns anseios
E deixarei que se perca também a imagem dos teus olhos castanhos e o reflexo da minha face no teu olhar tão doce.
E me perderei de ti para que eu possa encontrar em mim o poeta
Porque tua ausência é sempre mediata presença do veio poético.
Te amo, mas não te quero e permanece assim, tácito, o meu sentimento
Porque se tu fosses minha em mim a poesia estaria acabada.
Quero viver da tua ausência para que surjas em mim como eterna presença da inspiração
Para que seja, este amor, perene conjunção adversativa e assim, antes e sempre que nos amarmos, possamos negar tudo
E nosso amor estará em nossas vozes, em nossas carnes, em nosso olhar de contudo.
E sempre haverá um mas, capaz de me fazer indagar o porquê de não olhar nos teus olhos e dizer que te amo e compreender a necessidade da tua ausência.
Tolo, até pensei que tua ausência era algo que me faltava, mas tu não me faltavas
Eterna desventura – bem disse o poeta – tua falta é presença constante em mim porque, ainda que distante, estou cercado por ti
E essa falta, essa falta vazia é o que me completa porque tu és um estado em mim
E enquanto eu escrevo teu corpo repousa noutro corpo que não o meu e teus braços enlaçam outros braços que não são meus
Mas ainda assim eu te possuo verdadeiramente, mais do que ninguém, porque meus poemas desnudam o teu íntimo
E a tua ausência é a infinita presença da minha vontade.
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Quando
Quando daremos por vencida a agonia
Deixando o orgulho espatifar no chão?
Quando arderá, outra vez, de paixão
A pele como outrora ardia?
Quando seremos, de novo, nós dois
Entregues ao gosto puro do contentamento?
Quando passará a ser nada o depois
Fazendo do pronome apenas uma circunstância de tempo?
Talvez quando na vereda dos olhos avistarmos uma resposta
Para o mais inquietante questionamento:
Se não agora, quando?
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Ilusão de Poeta
Por trás da mão do poeta nem sempre existe um poema
Nem sempre existem rimas ou versos
Existe, no entanto, a vontade de responder um dilema
Este, musa permanente que lhe deixa sempre avesso
Por trás da mão do poeta há o desejo infinito
De revelar a resposta que tantos querem ter
Quem e o que ela é? É preciso dizer por escrito
Para que não mais se perca o tempo de ser
Por trás da mão do poeta revela-se a esmo
A ilusão de um dia sentenciar quem ela é
Nesta busca, escrever é depor contra si mesmo
Sem saber dela, nem o poeta sabe quem ele é
Por trás da mão, a alma do poeta e a pretensão sofrida
De se entregar à sua musa e revelá-la junto de seu anseio
Vida, é ela a musa perene da pergunta mais bonita
Como conhecer o traçado da vida sem devaneio?
Marcelo Astiazara
Gabriel é um jovem poeta que já ilumina nossa alma com sua poesia. Irá longe. Parabéns!
Lourdes Kauffmann
Quanta poesia neste jovem escritor Gabriel Fernandes! Em seus poemas qualquer leitor -jovem, adulto, até velhos – encontram emoção e sabedoria!
Renata
Sempre encantando com suas palavras, ricas de sentimento, que emociona nosso coração, amigo poeta te desejo afortunadas vivências em teu caminho.