Quatro poemas de Henrique Duarte Neto
Henrique Duarte Neto é catarinense, 47 anos, funcionário público, professor, crítico literário e poeta. Lançou três livros de poesia, afora outros de crítica literária. É do seu último livro de poesia, Provocações 26 (Curitiba: Kotter, 2019), que foram extraídos todos os quatro poemas desta edição.
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Canção das Crianças Mortas
Tão cedo, nem bem Primavera, e tu, senhora cruel, levaste estas flores em botão. Os olhos azuis das crianças, outrora faróis a iluminar meus dias, agora permanecerão apagados, numa desolação sem fim. Tão cedo para vós, crianças, e tão tarde para mim, profeta da dor. Contudo, não será tarde para evocar-vos em lembrança, passado para além da tragédia, ponte entre o vivido e a saudade.
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Kafka à la Schopenhauer
O absurdo está presente no coração da existência, entre volições arbitrárias. Quanto mais arbitrária for a volição, maior a chance de ela sair vencedora.
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Deformação
O artista moderno vale-se de uma estratégia sui generis, pinta um quadro que se não chega a ser abstrato é muito menos figurativo. Assim, utiliza as formas e matizes para deformar a realidade. Torce, expande, retrocede, funde… as figuras, demonstrando que elas merecem ser olhadas de um outro jeito, muito mais sofisticado e atento. Desta forma, os sentidos amplificados e não mais domesticados poderão ver mais, expandir continuamente os horizontes da fruição estética.
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Paulo Coelho em Drágeas – Provocações III
I) Mago para o deleite de uma multidão de asnos.
II) Cianureto com gelo para o embotamento das ideias.
III) Óculos sem grau para os cegos.
IV) A pseudoliteratura combinada ao mau odor da classe média.