Quatro poemas de Henrique Schlickmann
Henrique Schlickmann, natural de Joinville-SC, atuou no teatro local até 2017, ano que mudou-se para São Paulo-SP, onde reside hoje. Trabalhou inicialmente como ator do teatro universitário, enquanto cursava Licenciatura em História, em seguida iniciou em uma cia. amadora, o Grupo de Teatro “Canto do Povo”, no qual trabalhou em diversos projetos, além disso trabalhou no ensino de teatro na rede pública. Foi também Secretário da Associação Joinvilense de Teatro e Conselheiro de Cultura no Conselho Municipal da Juventude em Joinville-SC. Atualmente dedica-se à escrita dramática, é estudante de Dramaturgia na SP Escola de Teatro, integrante do coletivo de pesquisa “Dramofagia.txt” e dramaturgo no Grupo Dragonesa de Teatro.
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Ponto
Convergência imanente e impossível
Donde surgiu o mundo
E eu
Lançar-se como humano a vida
E aos acontecimentos regentes
A glória estelar que brilha
Não sou nem nunca serei liso de memórias
Me empurro no dia a dia dessa rotina
Me levo a ver em ver o que anima
Quero amar e ser
Quero pulsar e derreter
Explodir correntes correr
Em um linha até não sei
Talvez a praia de Santos
Onde a sujeira humana me assuste
Ou então ao fim do horizonte
E do arco íris
Onde uma cobra me devore
E eu possa ser só um ponto
Donde surgiu meu mundo
E o prazer que aflora
*
Nascimento
O molhado de fora de uma garrafa vazia
Uma gota escorre e mela o chão
Suja a terra
O barro encharcado engole os pés dos homens
O lodo suga a cidade
Surge um grande mangue
Dele nascem troncos tortos de sol
Peixes engordam alimentados de prédios
E crianças d’água gritam de alegria
*
Inverno Nacional
Além dos trópicos
(de onde eu vim)
O sol na moleira é doença
Dá leseira e burrice
O frio enrijece
(dizem que sim)
Não se sabe o que
Além dos trópicos
Querem autonomia
Fugir do sol
Querem matar o fogo
E seus filhos
Fogo da vida
Instaurar um império
Branco e higienizado
por produtos importados
Além dos trópicos
Se orgulham
De si mesmos
Por serem quem são
E não são
Aquilo que brilha
E reluz
Por isso se orgulham
De valores
Que não compram mais nada
Que se mortificam em si
Congelam seu sexo
Engessam o sentido
Vivos-mortos em fim
Além dos trópicos
A tirania é regra
A vulgaridade é a coerência
E acabo por aqui
Pois isso é um poema
*
Aluado
Coração amarrado
Peito pesado
Olhos cheios de qualquer coisa
E o resto vocês sabem
Tudo tanto
E ao mesmo tempo não sei
As profundezas são cabines telefônicas
Feitas para um
Uma ligação e pronto
Nunca para morar