Quatro poemas de Joe Pereira
Joe Pereira é um poeta mato-grossense. Vivia em Sorriso e mudou-se para a região da baixada cuiabana em 2018, atualmente residindo em Santo Antônio do Leverger. Pedagogo pela Universidade de Cuiabá – Faculdades Integradas de Sorriso. Graduando em Distúrbios de Aprendizagem. Tem nas palavras um refúgio sublime.
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INCLUSÃO CONFLITUOSA
Pessoas diferentes…
Ei pessoas diferentes. Excludentes!
O que querem? Extinguir a Sociedade dos Iguais? Controlem-se. ‘O mundo é pequeno demais pra nós dois’
Fujam para além do Abrigo da Noite
Onde seus maus não nos alcançarão
(E serás uma Sociedade dos Iguais)
Criem uma redoma sobre vós
Longe dos focos de luz
E terás tua tal liberdade
Deleita-vos de nosso mais puro ar social
Oh miserável ser
Agride-nos com tal petulância
Por invocar direitos que deverias ter
Que tamanha ousadia!
Vastos em ingratidão
Por que reclamam do que já recebem
Conformem-se
É muito. É o bastante. Calem-se.
Suas vozes estridentes, força não terá
Veja a subordinação em que vós estais
Ser escravo
Escravo de seus sonhos imundos Ilusões.
Procure-os além da Montanha do Nunca
Fracassos de seres infelizes
Misturar- se a nós nunca serão capaz
E lá, só lá terá felicidade e paz.
*
PUTREFAÇÃO
Pessoas iguais…
Ei pessoas iguais!
Somos os ditos diferentes, os seres excludentes
Os vermes sociais que pulsam na tua veia latente
Lutamos pela causa: Vida
Cientes da tarefa ainda não cumprida Impedida…
Por infames sugadores de almas
Há em seu corpo alguma parte sã?
Perceba. Estamos todos juntos
Dentro do mesmo odre
Decompondo todo esse organismo. Já tão podre
E vos fazem status com seu falso humanismo
Banhado em autoritarismo
Oh ser ignorante
Avante! Avante!
Há uma cura para toda essa doença.
Demência…
O corpo exige mudança. Movimento…
É como uma dança
Os diferentes se completam
Há um Mundo Novo à nossa espera
Onde o respeito é mútuo
E a intolerância estreita
Desprende-se das tuas amarras
Pois tuas garras perfuram o teu ego
E sangram ódio, por onde alcançam
Num frenesi, que atinge a mim. Não nego
Porém amargam, alteram o odor
Num desamor. Tua própria vida se desfaz
Num cadáver frio de amabilidade
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UMA MÁQUINA ZUMBI
As engrenagens rangem e travam quando falta manutenção. É um cuidado especial que deverá ser feito periodicamente. No entanto, é exatamente assim que nossos sentimentos também reagem. Se não correspondido, não aflorado, exibido com pudores, se abafado e compactado no oculto de nossa alma, você irá ranger, irá se sentir quebrando, com urgência de reparos. A vida é curta demais para se prender aos seus medos, anseios e expectativas. Isso não te leva a nada. Te deixa estagnado, inerte no tédio monótono. Um morto-vivo por antecipação num monturo de ferrugens.
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ÚLTIMO BANHO [SONDERKOMMANDO]
E era eu quem fechava a porta. Todos os dias fazia essa tarefa, e outras tantas. Já não olhava nos olhos dos outros. Não conseguia. Pois era um adeus doloroso demais. E eu sabia que em algum momento era eu quem estaria ali dentro, procurando auxílio nos olhos do ‘fechador de portas’. Sonderkommando. Função covarde! Depois de um tempo, ali estava eu novamente, juntando os trapos que sobraram. As cascas. Submerso num calor infernal, mas não era este o culpado das lágrimas em meu rosto. Esta é uma tarefa difícil. Não é como correr livre por entre os campos até seu pulmão pedir ar e suas pernas arderem. Doce infância. Nem como descascar batatas, onde você pode até cortar seu pequeno dedo, mas depois fica tudo bem. Esta é uma tarefa difícil. Pois não há cura para um coração ferido por arames espinhentos; uma alma despedaçada por humilhações vorazes e um corpo sufocado por uma câmara de gás.