Quatro poemas de Leila Lopes de Andrade
Leila Lopes de Andrade é graduada em Letras Vernáculas e Comunicação Social. Participou da Antologia Meditações sobre o fim – os últimos poemas (Editora Hariemuj/ Portugal). Tem poemas publicados na Revista Germina Literatura e outras. Edita mensalmente a Revista Cultural Diversos Afins.
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Eu escrevo com os ossos
Dentes pregados no agora
Uma mão me empurrando
O tempo todo
A desatenção
Sua ausência dissimulada
Minha inércia
Insistência forjada
Afeto disfarçado
O tapa na cara de súbito.
Cada um resiste à sua maneira.
*
O que está por trás de tudo
É somente
O que interessa nesses dias
Inertes e vazios
Invisível, mas
Única coisa que restaria
Profunda ou significativa
A leveza das tuas mãos
Estava escondida naqueles
Outros dias
Que já não mereço mais
A atual rotina particular
Atravessa
A bala certeira
Nas costas.
*
O verso acontece em si
Caminha no pensamento tortuoso
Não destinado a acertar as pontas
Mas subjugá-las
Ao imensurável desejo
De persistir
Sem pânico que ameace
O caminho
A saída
O pedaço plausível da liberdade
Que você semeou
Em algum passado
De cárcere
De exílio
Ou de memória.
*
Os espinhos cravados
Apontados
Na minha direção
Na sua direção
Somos espíritos apenas
Em algum ponto
De alguma decepção
Ou desumanidade
O chão, bem perto do chão
Perto do desalento
Respiramos ainda
E sentimos um sopro
Uma verdade externada
Um lapso de chuva, um raio
Mãos grudadas no próximo degrau
Espaço da dignidade
Há que se falar
Da subida iminente
Nossa de cada dia.