Quatro poemas de Lucas Sage
Lucas Sage, nascido em 1993, na cidade de São Paulo, é poeta e fotógrafo. Já cursou Letras, e hoje se dedica ao estudo do tarô como linguagem poética e técnicas de poesia experimental. Está escrevendo o seu livro de estreia, Lume, a ser lançado no próximo ano. Também tem um projeto de música eletrônica chamado Palaempaz.
***
DUAS ASAS
vida amor
o que vem antes o que vem
depois você me tocou
como uma espécie de lusco-fusco
que nessa cidade bem sabe se dizer
matutino
ou qualquer coisa que brilhe
melanina areia no arpoador às três
da tarde sonho que arde
quando não tinha mais para
o que acordar e se esconder
vida amor
dois caminhos que se encontram
antes e depois mas o que vem
e para onde vai ninguém sabe
*
K
Tu ainda vives o sonho,
eu vivo as trancas, as lâminas
e o sono. Acordo todo dia com
Deus me ligando, vez ou outra
acontece também uma ligação
de cobrança. Dívidas existem
como marcas civis em um corpo
capitalista. Marcas capitalistas
ferram o corpo como uma dívida.
Falta-nos o potássio, a vacina
outros nomes para a anarquia
Um céu que não seja tragado
ao azul, um cigarro que não nos
faça mal, uma palavra que não
nos fira. A fera diria: durma mais
um pouco, fume mais um Marlboro,
embaralhe de novo as cartas.
A verdade é que Deus sempre
me liga mas nunca fala nada.
*
o amor tem sede quando é verdade
narcisos,
e então
o verão
que plantam
em nós constelações
anos-luz de instantes
fera firme em flor
rubra quanto todo azul
à contraluz do abismo
profundo como a linha
que divide
o sol de sua dança, abrasiva
sem medo de março
sem galáxia que trace
seu tamanho onde paz
é dimensão.
*
ESPECTRO
A emoção concreta na cor
além do pertencimento:
O rosa frustrado
o vermelho ansioso
o pálido azul maroto
de quem perdeu sua juventude.
O verde íngreme, o ocre virgem,
o púrpura quase morto, o bege
entre o universo e o desgosto.
O ouro bem viado, o carmim
que nasceu turquesa, o sépia
sem pele, o cinza vivo de natureza.
O amarelo veneno e o cardo que estraga,
o preto que morre, o branco que mata.
*
Uma palavra abstrata sem nenhuma cor.