Quatro poemas de Marlon Pires Ramos
Marlon Pires Ramos nascido em 92. Estudante de LETRAS na UFRGS. Marlírico quando escreve. Filho de Maria de Mário mas acima de tudo neto da Dona Terezinha.
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É difícil
ser sensível
no meio
da violência
*
Inácio da Catingueira
Tentando dar meu melhor na minha pior fase
Sabe como é, menor
Feridas se curam com o tempo não com gase
AAAAAAAAAAAAAAAAA
Tô cansado dessa gente que fuma
Cheiro de cigarro nojento dessa gente que fuma
Fui assaltado no dia do meu aniversário e o cara fedia a cigarro
Chutado e jogado no chão fiquei todo sujo
Tô cheio de raiva e essa raiva cheira a cigarro
Os muleke de 12 anos querem dar uma de adulto tomando kit com cigarro na mão
Tem gente que eu amo mas odeio ver cigarro na sua mão
Essa raiva cheira cigarro
Nessas eleição vejo irmãos se perderem na esperança branca
Não tenho mais paciência pras ideia branca
Tô cansado dessa facção por isso que #elenão
Tô incomodado tipo quem usa calça jeans sem cueca
Procurando trampo como quem cata os stories do chush no insta
Estudando pro enem tipo quem faz playlist no spotfy
O que tem mais na CB?
Gente branca estranha ou os irmão pedindo moeda?
Sacola do zaffari ou cheiro de merda nas esquina?
A bolha estoura quando tá perto do fogo
Você dança sobre o vulcão?
Tipo Inácio da Catingueira a poesia me deu liberdade
Tipo Cruz e Sousa simbolismo tão a frente que ninguém entende
Tipo Jorge de Lima o erudito e o popular dançando na mesma linha
Esses Poemas Negros serão leitura obrigatória no vestibular
O bagulho vai estourar daqui a pouco vou estourar
Mas não vai ser aqui vai ser lá em cima
Tô mirando alto
Passarinho e poeta não gosta de gaiola
Tipo Mitti Mão Negra eu quero voar!
*
Boneca de linha
Em 1930
Ela veio à luz
Com dano e sem plano
Terezinha de Jesus
Única menina
De seis irmãos
Desde sempre
Foi zelo, trabalho, coração.
Pretinha do sol
Ajudava a mãe
Lavando e batendo lençol
E cada trocado
Era guardado
Pro presente da menina
Tão sonhado.
Uma boneca bordada
Feita de linha
Toda enfeitada
A coisa mais linda.
O Natal
Era na praça
Festa de graça
Com muita graça
E alegria.
Papai-Noel
No caminhão
Jogava presentes
No meio da multidão.
A boneca tão sonhada
Estava em suas mãos.
A menina correu aflita
Cheia de gratidão e emoção.
Para se acalmar
Foi beber água perto do poço.
O destino trouxe o vento
Como um soco.
Levantou tudo pro ar
Em um segundo
Viu o sonho acabar.
A boneca mergulhou
No fundo do poço.
E a menina Terezinha
Virou choro até a noite terminar.
O tempo passou
Mas as lágrimas continuam…
A maior dor
Da minha avó
É o falecimento do meu avô
E a segunda maior
É a boneca de linha
Que nunca mais voltou.
*
Cobrança
Tipo Baco Exu
En tu mira
Cêis tão me cobrando
Tem que falá
O que vc escreve, mano
Tem que falá
O que vc escreve, mano
Meu pai tá bebendo
E fumando
Bêbado incomodando
Eu tô aturando
A vó é forte
Mas já fala em morre
Eu tô cuidando
O público não entendeu
Por que vc fala tanto da vó
Por que sou humano
POR QUE SOU HUMANO
A depressão
Chega no meu ouvido
e fala eu te amo
O Airan está me salvando
O MilTons está me salvando
Tô em silêncio
Mas tô trabalhando
Eu tô trabalhando
Eu tô escrevendo
Tô trabalhando!
Maria Ferreira da Conceição
Eu gosto muito da escrita do marlon e fiquei feliz demais em vê-lo aqui!
Vida longa!