Quatro poemas de Natália Agra
Natália Agra nasceu em Maceió (AL). É poeta, editora, tradutora e jornalista. Publicou seu livro de estreia, De repente a chuva, em 2017, pela editora Corsário-Satã. Edita, com Fabiano Calixto e Tiago Guilherme Pinheiro, a revista de poesia Meteöro, cujo primeiro número sai em 2019. Organiza, com Fabiano Calixto, Leonardo Gandolfi, Marília Garcia e Tiago Marchesano, a Feira de Poesia Desvairada, que acontece anualmente na cidade de São Paulo.
O poema “Nos teus olhos todas as fases da lua” é inédito, os demais foram publicados em De repente a chuva.
***
O mistério do pavão
Para Kurt Cobain
um misterioso pavão
) cauda aberta em borboleta (
num movimento de bailarina
avança sem grande esforço pela colina
num colorido e vagaroso sui
cí
dio
*
O trem
Para Torquato Neto
às três da madrugada
penso que o trem se esqueceu
de mim
mão gelada
louca disparada
– seria esse o meu fim?
*
Poema do infinito
Para Fabiano
tâmaras maduras em teus quadris
corpo em flor de anis
escapa vivo num torso místico:
todo o profano
Aruanda é aqui
nesta cama
o tempo, naquele instante
um tear
vislumbrando no outro a própria estranheza
(carne e cios duros)
castelã com unhas de gatos
costas arranhadas
hímen e rins como animais em asas
falena volteia erguido libertino
não coma a borboleta
(veneno e lua lambem a mesma boca)
sinédoque doce Shiva
num toque de chuva
abraça vísceras sem palavras
por último, lâmina-lança
bruta serpente calada
(Aruanda, nossa eternidade)
éter, clarim
todos os sentidos
chama
e chuva
*
Nos teus olhos todas as fases da lua
Para Letícia
1.
o planeta vermelho que de perto
é um balão voando
na altura dos meus cílios postiços
em atrito dá efeito
de borboleta na balada já cansada
torres transparentes de tequila
torres vermelhas de vinho tinto
e lá no fundo você
extraindo da moldura a carne pura
na manhã seguinte
o olhar fechado
o corpo em ressaca
a memória uma torre de vidro
neste mar de valsas-ondas
2.
a maçã e sua anorexia à mostra
estranho exemplo
a boca preenchida de carne
os olhos gotejam no balde
a liberdade melancólica da lua
sempre só
num silêncio-móbile
que Patti Smith canta:
você seria uma asa no céu azul
em sua escuridão
finally we are no one
pergunto-me se isso não seria o fim do horizonte
o espaço e suas maçãs tão vermelhas
saturnos
giram
e
giram
it was beautiful!
it was beautiful!