Quatro poemas de nina rizzi
nina rizzi é escritora, tradutora, pesquisadora e professora. Formada em História pela UNESP e Mestra em Literatura Comparada pela UFC. Traduziu obras de Alejandra Pizarnik, Susana Thénon, Clorinda Matto de Turner, bell hooks, Alice Walker, Ijeoma Oluo, Abi Daré, Langston Hughes, entre outres. Autora de tambores pra n’zinga, a duração do deserto, geografia dos ossos, quando vieres ver um banzo cor de fogo e sereia no copo d’água. Coedita da revista escamandro – poesia tradução crítica; vive em Fortaleza, onde faz laboratórios de escrita criativa com mulheres e integra as coletivas Pretarau – Sarau Das Pretas e Sarau da B1.
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kandandu pa’ela
muintas flôle pa lambê cum’miana pele di muler
inda dispois du buxo xeio dos fio quim fazê
lambê os fi tamém
óia, i inté memo ia a apanhá batuque nos lombos di capitaum:
tudo pesse sinho banco – discupa, mi obatalá mi xangô!
mim dexá ti chamá ansim “mozamô”
mai inveio naum! num quisi apendele ele
mim linguá kulunguana dizi qui infeio mi petuguêis
esclaviza mia linga cota mia linga
mai mim cala naum
a voz de mia dedos canta
canta i lambi in tua pele mozamô
*
êh lá em casa êh
juntar três pau de ginga
meter rasteira
plantar roseira
êh pau de ginga êh
cavar três terreirão i arremate
subir casinha
afogar gentinha
êh terreirão i arremate êh
soprar três folha de arruda
roer ossinho de menino réi
lamber dedinho de menino réi
êh folha de arruda êh
lamber pedaço de dengo i banzo
tambor a pele mi’a
túnel a goela mi’a
êh dengo i banzo êh
amalocar aquilombar
aquilombar amalocar
êh-hhhhh casa-êh
*
una gorila
aquele tipo de mulher
que atravessa o delta
esgarça poemas meu bem
arregalase meu bem
goza junto meu bem
sangra junto meu bem
estou sangrando meu bem
e é água encarnada like dark
e é una montana
e é una playa
mango leaves meu bem
lambo meus lábios
atravesso o delta
sangro junto meu bem
nessa onda nessa onda
de calor meu bem
de va gar de va gar
soy una gorila meu bem
*
falo de um outro futuro
tinha coração selvagem lá dentro
cova funda hq pão pra cumê
pedaços de pedra cachorro
bebê-encantado amada
mulher pajubá fenomenal do fim do mundo
tenho pressa vai devagar
tinha pau de ginga terreirão i arremate folha de arruda
dengo i banzo maloca quilombo
saci-pererê dançava em cima da ruína
a gente fez um pango da diáspora
a pertença é um beiço
o futuro não demora e tava lá dentro
sereno pra fudê
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