Quatro poemas de Paulo Sérgio dos Santos Rosa
Paulo Sérgio Dos Santos Rosa tem 24 anos e mora no Rio de Janeiro, na Vila da Penha. Já cursou Letras, mas passou a estudar Marketing para trabalhar com Representação Comercial e Merchandising. No entanto, a paixão de ler e escrever nunca o deixou.
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Duque
“A palavra ‘Duque’ possui sua origem em algumas línguas como o grego e o latim (Biz, douka e Duce, respectivamente). Nesta última, os falantes da língua morta agregaram o sentido de chefe à palavra Duque. Para outros, no entanto, a origem da palavra ‘Duque’ reside no substantivo latino Dux, cujo significado é “o que conduz”, comumente usado no período do Império Romano para designar o comandante militar.
No atual momento que me encontro – e acredito que esta seja a realidade de muitas pessoas, embora poucas terão a humildade e coragem de admitir -, não sou rei, soberano superior de mim. Sou Duque, condutor da minha caminhada e tomador de decisões que traçarão o meu destino. Sou chefe da minha vida e não apenas mero funcionário da mesma. Eu decido quem fica e quem sai.”
A minha consciência reconhece meu esforço
Diferente de você que só me cobrava o dobro
Como poderíamos conversar sobre reciprocidade
Se você nem ao menos foi capaz de dar metade?
Hoje é um bom dia para me livrar de tudo inoportuno
O tempo não espera o jogador decidir qual jogada executar
Preciso agir rápido antes que termine meu turno
Por que me contentar com pouco se mereço o primeiro lugar?
Mas, se for para falar sobre dedicação,
Eu, humildemente, peço permissão
Esta parte eu deixo vazia, não se faz necessário escrever
Não preciso ostentar tudo que já fiz por você
Quantas vezes já engoli minha vaidade para você voltar
E toda vez que você voltava, uma parte de mim ia embora
Quantas vezes eu já me desculpei mesmo não estando errado
E toda vez que nos acertávamos, eu voltava para você arrastado
Tentei conversar sobre o que me afligia, mas você não deu ouvidos
Falava que eu exagerava por coisa pouca, sem nenhum motivo
E eu aceitava ser menos para continuar tendo você ao meu lado
Mas percebi que é melhor estar só do que mal acompanhado
Nada contra você, embora não acredite
E esse é um dos motivos inclusive
Minhas palavras passaram a não valer mais
Não consegui aguentar, o peso para mim foi demais
Enquanto estávamos juntos, eu era tipo um santo
Não daquela forma clássica de santo puritano
Mas eu fazia milagre com o que eu tinha
Transformando pouco em muito do dobro
É foda! a minha mãe já costumava me dizer
Que em momentos de crise, não há lembrança
Dos acertos, apenas espaço para maldizer
E disposição somente para perpetuar a cobrança
Você cobrava exatamente o que não entregava
Mas argumentava como se pudesse me cobrar
Aqui têm uns feedbacks, coisas que precisam de melhoria
Falar e não fazer é sinônimo de hipocrisia
Querida, eu sou uma escultura esculpida em retalhos
Minha fôrma é moldada pelas minhas imperfeições
Mas sinto em lhe informar que seu posicionamento é equivocado
Se não quiser assumir as responsabilidades pelas suas ações
“…Enfim
Hoje na solidão ainda custo
A entender como o amor foi tão injusto
Pra quem só lhe foi dedicação
Pois é, e então…”
*
Caixa de Pandora
“Nós todos não podemos ser bem sucedidos quando metade de nós é retida.”
Malala Yousafzai, ativista paquistanesa
Mãe, como não se corrompeu mesmo sendo exposta a tanto mal?
Desde pequena submetida à nojenta patriarca hipocrisia social
Vanguardista demais para utilizar das mesmas limitadas visões
Foi mal falada por ser mulher independente que quebrava padrões
Como posso integrar o time que concorda com tudo isso
Sabendo pelo que minha mãe e outras mulheres já passaram?
E ainda passam com tamanho descaso de todos envolvidos
Todo sangue de uma mulher morta é culpa de quem cerra os olhos e tampa os ouvidos
Falaram que lugar de mulher é na cozinha
Discordar deles seria apenas bobeira minha?
Esses merdas aí tentam de todas as formas me impactar
Nunca vão conseguir, já houve um que conseguiu me traumatizar
Você fez jornada dupla para que nada me faltasse
Trabalhou tanto até que saúde não mais restasse
Você não tem superpoder muito menos é a Capitã Marvel
Mas foi capaz de, sozinha, manter a minha vida estável
Executar o mesmo trabalho que eles e ganhar menos
E ainda querem negar a desigualdade de gênero?
Falar que é mimimi lutar por igualdade na sociedade
Contra-argumentação de machista covarde
Eles querem falar de meritocracia
Eu quero falar de herança sociocultural
Eles negam a existência da ditadura
Não me espanta, elegeram um boçal
Dispenso a masculinidade tóxica que homens fracos usam de escudo
Meu interesse principal é ser colaborador para um novo mundo
Mãe, espero que esteja te fazendo orgulhosa
Nenhum outro filho da puta vai te bater enquanto você chora
A masculinidade agride tudo o que a apavora
Da mesma forma que você foi agredida colocando seu amor à prova
Em vez de assumirem a culpa, preferem cavar covas
Ou criar mitos caluniadores como a caixa de pandora
Minha mãe com depressão estirada na cama
E eu menino de apenas nove anos de idade
Me fala como se explica para uma criança
Que sua heroína está sendo derrotada por uma enfermidade?
Mas ela me disse que era somente uma tempestade
Que eu nada temesse, pois tudo aquilo passaria
Como querem que cultue a masculinidade como personificação da divindade?
Deus para mim é mulher e, sem Ela, eu nada seria
*
Súplica
Escrevo para expurgar as dores que sinto
Mas, se me perguntam como estou, eu minto
Estou bebendo e fumando para me anestesiar
Para as responsabilidades conseguir suportar
Para não fazê-lo me ver chorar
Alguém, por favor, poderia me ajudar?
Onde eu compro essa felicidade estampada
Que vejo em todos os feeds compartilhada?
Alguém me explica como me enquadro
No senso comum para todos adaptado?
Estou atrás do remédio que me torne alienado
Estou pedindo socorro por meio dos meus versos
Mas vocês me aplaudem enquanto eu berro
Estou pedindo ajuda para tentar continuar
Seria assim tão difícil de enxergar?
Não repara, mas a vida está confusa
Não sei como devo proceder
Ando perdido procurando o caminho
Que me leve até você
Me desculpa, meu bem, queria ser forte igual a você
Minha cabeça está uma bagunça, difícil de entender
Só preciso me embriagar, me entorpecer até esquecer
Tenho medo de não conseguir vencer
Tenho medo de não conseguir vencer
E decepcionar você
E decepcionar você
Somos instantes e, num instante, não somos nada
Segura minha mão, me envolva nos seus braços
E me diga que tudo dará certo
Eu só preciso de uma vitória para me animar
Só queria sentir o gosto de como é ganhar
Neste mundo, parece que os papéis já são predestinados
Teria eu nascido para o fracasso?
*
Sorrisos Desaparecidos
Nada que consumo me satisfaz
Ingiro tudo cada vez mais
Não percebendo o mal que me faz
A dor cessa? Estou preso nesta cela
Na qual a minha pena é perpétua
Sem nada para me absolver
Ou pelo menos a dor solver
Minha mãe está preocupada
Com meu jeito realmente assustada
Ela me perguntou por que entristeci
Eu a olhei no fundo dos olhos e respondi
“Desculpa, mãe, mas tá foda sorrir por aqui”
Ela não entende, diz que eu vivo sorrindo
“Apenas dissimulando o que sinto”
Respondo com olhar marejado
“É, meu filho, o que deu errado?”
Ela me pergunta com coração apertado
A vida nos aconteceu, mãe
Para nós de forma mais severa
Essa é a cruz que a gente carrega
Tão pesada que faz sorrisos desaparecerem
Paulo Victor Viana Martins
Uauuuu! Incrível é pouco para descrever! Meus parabéns, rapaz ♥️
augusto canetas
se um manifesto é um ruído
o que será um ruído
sem manifesta…
um recreio ou um abismo….?