Quatro poemas de Quemuel Costa
Quemuel Costa nasceu em Parnamirim/RN em 1999. Está cursando licenciatura em Teatro na UFRN. Se interessa e se espalha pelos cruzamentos entre literatura e as artes da cena.
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Rasga
os homens são sempre os primeiros a
reparar no meu esmalte, penso
que para avaliar se vai doer menos
quando enfia-las.
na garganta somente pedras incrustadas
para te satisfazer melhor
os homens são sempre os últimos a chorar
os primeiros a gozar, em guerra os primeiros a matar
às vezes esqueço
que quase sou um homem também
*
toda vez que eu volto pra casa é
pra periferia que volto não mãe
não chore sim eu tô com meus
documentos por favor não
chore nunca soube lidar com teu
choro sim o lugar pra onde vou
é seguro lá só tem viado e sapatão
não eu não volto pra igreja não
atendi porque tava dormindo desculpa
sim todos os meus amigos são
achei melhor não te dizer acho que
aquele motorista sem máscara só não
me matou porque te reconheceu
a paz do senhor irmã
*
Infância
quando tirar carrapato de cachorro era divertido
e eu vivia no sítio
o suco de caju deixando rastro na garganta
as tardes de bonecas e bicicletas
a criança viada chorando na igreja
o ódio dos meninos me proibindo do futebol
e o não poder brincar de bonecas
todo o meu canto é pra sarar a criança que fui.
*
nenhum tijolo à vista
farfalhar das árvores, o peso do vento
asfalto queimando, o preço do vapor
você quer me beijar
com beijar eu digo rodopiar na minha
aqui não
penso que falta fazem os círculos
você sempre ri com os olhos
teve um tempo que eu sabia rir sem suar
gosto mais quando você ri na minha boca
uma maçã sendo mordida neste exato momento
girando dando voltas assim até caramelo
na sua rua não passa o
carro do churros
que pena