Três poemas de Ramon Ramos
Ramon Ramos (Rio de Janeiro, 1986) é graduado em Letras/Literaturas pela UFRJ e doutorando na mesma área na PUC-Rio. É autor de Tinta (poesia, 2012), Caroço (contos, 2013), A vulnerabilidade como procedimento (novela, 2018) e do inédito de contos — à procura de editora — Como me tornei Clarice.
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Depois das quedas
brigar por nós é imergir
na profundidade dos medos
e desse fundo voltar inteiros
(nossas quatro mãos dadas
no topo de uma pilha de armas
certos de que a vida
não milita por si mesma)
*
Ninguém o ensinou como amar seus barcos
É por dentro que o iceberg se faceta
e por isso tem mais chances de rachar
Apesar das escamas e diferente dos peixes
nunca se deixou levar ou acreditou na imersão total
Nenhuma leveza o sustenta
simula transparência com a cadência
de quem se permite aproximar
Quem o bordeja e bota a mão
a testar suas cicatrizes
deixa com ele postas
de sua superfície
Em meio ao sal das próprias lágrimas
por vezes rejeita revolve rebenta
chama: vem para perto!
e devolve destroços ao mar aberto
Seu frio não faz pena em ninguém
Sua emoção queima em vez de acalentar
Este isolamento, o que atrai, não faz concessão
mas ninguém o ensinou a amar seus barcos
a sorrindo se reinventar nas águas da dissolução
[de A vulnerabilidade como procedimento. Editora Patuá, 2018.]
*
O vento
empurra
porque não sabe
abraçar
[de Tinta. Editora Patuá, 2012.]