Quatro poemas de Ricardo Pedrosa Alves
Ricardo Pedrosa Alves vive atualmente em Guarapuava/PR. Poeta, publicou os livros Desencantos mínimos (Iluminuras, 1996), barato (Medusa, 2011) e Poemas baseados (Kötter, 2018). Com os poetas Ronald Augusto e Cândido Rolim, lançou o volume Orumuro/Remerzbau (Butecanis Editora Cabocla, 2017). Dirigiu e apresentou a série de programas Metáfora (Rádio Educativa do Paraná). Também participou da Bienal Internacional de Curitiba (2013) e da antologia Vinagre, uma antologia de poetas neobarracos (2013). É professor universitário, pesquisador das literaturas africanas e mantém o blog de críticas de livros de poesia pardelicatesse.blogspot.com.br.
Os poemas abaixo fazem parte do livro Algo chega tarde demais, a ser lançado pela editora Medusa.
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MONTARIA para cavaleiros longínquos dias inteiros
e o observatório xamânico não adianta quase nada
todo o maquinário dissolvente os investimentos da derrisão,
ó o ser montado para escrever num buraquinho mínimo do
tempo ouvindo os nomes do vento os cascos vindo vibrando
no asfalto de vidro do ouvido um rabisco num traço mínimo
escrever as palavras de neblina sépia suas tatuagens cegas na
retina
o quase nada no ditado
*
OPERAÇÕES de submersão quando a palavra cavalo cavalga. Operações de subversão.
Descer este lago. Aguardar-se. Ir atrás da expressão proibida. Fresta de tinta. Mínima e
absoluta. Quando disser dentro da boca de uma criança. Quando uma criança abraçada a
outra. E depois puxando os cabelos ao sol. O ar marinho, sua roupa. As pesquisas mínimas
do desencontro. Saber do esquife não compete ao momento vivo. Enquanto houver queda,
cair. O cansaço do maratonista após o poema.
*
COMEÇA quando termina foi o que aprendi sobre a versura, isto é, quando termina como
uma preparação para o “advirá”?, ou melhor, algo que nos empurra à queda sem nunca
contar sobre o impacto, se cairemos na grama ou perderemos um braço (considerando
ainda a hipótese de que a queda nunca termine de acontecer)
O poema fica exatamente vazio ao terminar
*
RESISTE-SE ao sistema sob a fulguração. O êxtase e o pasmo nunca são nomeáveis.
Ao mesmo tempo, a iluminação significativa do ser, quando algo se explica sem pergunta.
Traria as condições materiais ao primeiro plano, o calor artificial, o trânsito. E um aprendizado sob ofertas e coações.
Explicar uma ausência. O que se faz no correio. Tanto e sempre sair para andar.
Dizem para diminuir menos, mas sempre em festa. Só quando o corpo com história se encontra com outrem.