Quatro poemas de Rodrigo Brito
Rodrigo Brito é poeta, professor de Psicologia na Faculdade do Pantanal e mestre em Estudos de Linguagem. Autor de Solstício ao luar (2013) e VISÕES (2015). Twitter: @rodrigoffbrito
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Nas paredes do cubículo
estão as apatias do poeta
que escreve no conforto da cama
enquanto os ruralistas planejam
saquear as vitrines dos afetos
O poeta combina sonoridades
pensa nas paronomásias
enquanto o padre faz troca-troca
com os adolescentes que ejaculam
as estrangulações da justiça
Lê novos livros
revisita as poeiras do clássico
aprende técnicas e beija o silêncio
assim é o poeta que finge
preocupação com as dores
enquanto a caneta no poder
desenha a separação e a morte
*
Ser um escritor no meio do mato
explica a desolação de conversar sozinho
elaborar lirismo que não será dito
narrar a água que não será mergulhada
desenhar o corpo que não será chupado
*
A vida já foi
agora tudo será
incerto como as balas
preciso como as dores
Não parece lógico desabafar
Para quem é o grito?
Sem conclusões para a existência
O deserto cresce por dentro
Verás o choro de tua companheira
O desemprego de teu filho
a lágrima do falecido na rua
Se para tudo há um poema
Não quero ser aquele que perdeu o rumo
*
Um ventilador ligado é um gladiador
o guerreiro mais fraco do que o leão
alguém que em breve construirá um tornado
Ressinto não ter nascido ventilador
estaria agora ventilando os cabelos no piso
é lá onde talvez comece o que eu não consigo encontrar
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