Quatro poemas de Sofia Ferrés
Sofia Ferrés nasceu em Montevideo, tem formação na área de Artes (Politécnica de València), Exatas (Unicamp) e Sociais (Boston University). Em 2017 lançou sua 1ª publicação “O Pequeno Livreto de Haicais” pela Oficina Tipográfica de São Paulo. Mora em São Paulo há 10 anos, onde gerencia uma consultoria de Design & Etnografia.
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em lua cheia o mar infla o peito
e eu posso cheirar a madrugada
os beijos nascem aqui: respiram entre
alvéolos salinos, se aquecem sem palavras
até o amanhecer: acordam na boca
*
Ignoro despreparada as notícias do mês
O funcionamento da opinião pública não me convence
(esboços de sociedade)
Nem a utilidade de uma revelia
contra o sentido inverso destes dias
Pudicamente,
examino as fases da lua sobre meu signo
(forças primordiais de reinos mais sutis)
Aprecio o brilho difuso do metal manchado
A rachadura da argila enquanto seca
A ordem cósmica de uma mandala hindu
, ou do teto de uma catedral europeia
A cor e a metamorfose da sua existência
me faz pensar que toda árvore é uma igreja
*
lembro de trepar pelos braços, troncos, galhos
me arranhando – a árvore me subia pelo verde
eu via o mundo erguida
cinco vezes maior que a
minha estatura de menina
(sem medo da queda azul)
os braços de madeira
são também da cadeira
de balanço
de onde olho fixo, hoje
da janela pra fora
a árvore da frente
*
as palavras me são estranhas:
pesam às vezes e estão mortas
entre um parágrafo e outro
os poemas decantam
quando paramos de pensar neles
quando não desafiamos a linguagem
na manhã do texto
Luciana de assunção
caramba, parece que foi eu quem escrevi esses poemas. estou completamente identificada!
Abreijos da sua “Plagiadora”,
Lulupisces21