Quatro poemas de Vanessa Ratton
Vanessa Ratton é jornalista, poeta, autora infanto juvenil, professora de teatro, Especialista em Teatro Brasileiro e Psicopedagogia e Mestre em Comunicação e Semiótica. Integra o Movimento Mulherio das Letras, tendo organizado a I e II Coletâneas poéticas Mulherio das Letras e a Coletânea internacional Mulherio pela Paz, em parceria com Alexandra Magalhães Zeiner, da Associação de Mulheres pela Paz Fraun für Frieden. Com o pseudônimo Tatá Bloom, é autora de Um ratinho que não gostava de queijo (Editora Multifoco), Um vizinho muito especial (e-book Kindle) e Uma menina detetive e a máfia italiana (Editora Trejuli).
***
Meu Eu
Sou poeta do vento,
não me atento ao tempo.
Sou poetisa da lua,
carrego a alma nua.
Sou poeta do sol,
do mar, o farol.
Sou poetisa das estrelas,
do espinho e das roseiras.
Somos um plural
de vozes e fonemas
em um singular desejo
de formar poemas.
*
Meus versos
Quando escrevo, não penso
em métrica ou em rima
Apenas semeio a palavra
que no pensamento germina
No meio das frases,
vou colhendo uns versos,
aparando o ritmo,
podando os nexos
De repente, brota um poema
rompendo a mente e o coração
Não me peças a receita,
só sei escrever à mão!
*
Vozes plurais
Ouço vozes!
Alguns são heróis,
outros algozes.
Duelam dentro de mim.
Tem um velho sábio
que dita provérbios como um chinês.
Quando se faz silêncio acredito
que seja o monge budista, talvez
Tem um grosseirão troglodita
que fala com fúria pra velha aflita
parar de lamúria.
Tem uma criança com medo,
sempre querendo colo
e um moleque que passa correndo
contando piada em velório.
Tem uma professora rouca,
um pierrô apaixonado
à espera da sua columbina
que vive a fugir do coitado.
Por ora canta a fã do Raul Seixas.
De noite, às vezes, passa uma gueixa.
Quando é lua cheia uiva a loba
e na missa reza a moça tola.
São tantas vozes dentro de mim
Que me sinto um plural
Chegam como uma brisa
e se vão com um vendaval.
*
Obra
Tijolo,
Tijolo,
Carrega a pá.
Cimento.
Segue a linha.
Bate com a pá.
Serra,
Lixa,
Pinta.
Bate prego,
Bate prego.
A obra está em sinfonia.
Toca o apito.
É a hora da marmita.