Quatro poemas de Wanda Monteiro
Wanda Monteiro, escritora, tem os seus textos publicados em revistas literárias como a Acrobata, Gueto, In Comunidades, Senhoras Obscenas, Mallamargem, Literatura Br, Relevo, Intacta Retina e outras. Essa amazônida, que nasceu nas aguas do rio Amazonas, é autora das obras: O Beijo da Chuva, 2008, Ed Amazônia ; ANVERSO, 2011, Ed Amazônia; Duas Mulheres Entardecendo (parceria com Maria Helena Lattini), 2015, Ed Tempo, e Aquatempo, 2016, Ed Literacidade.
Os textos poéticos abaixo fazem parte do livro A Liturgia do Tempo e outros silêncios, que será lançado em fevereiro pela editora Patuá.
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No depois da senda das palavras
o poema
de dentro da pedra
encara
medra
provoca
extirpa os sentidos de suas raízes
corporifica-se
na exata imagem
atravessa a retina
fragmenta-se na inexata existência
fora da pedra
o verbo acautelado de nascer
petrifica-se ante o indizível de seu olhar
*
sobre a carne viva da página
o talo do verbo
ergue totem de sentidos
jorra-lhe sem pudor
seiva e sumo
à espera de abrir-lhe
a
rosa
do
poema
*
o tempo fala ao teu ouvido
palavra-precipício
rasga teu pensamento ao meio
abre fina fenda
funda – escura
tira-te o fôlego
faz tua boca escassa de voz
podes ouvir os passos das palavras em fuga
o ranger de seus ossos ferindo o deserto do teu peito
é tudo tão silêncio em teu chão
e tu não sabes que o poema morreu
*
erigir do tempo
pretérito leito
adoecer de lembrar
quedar-se em silêncio
de surda ausência
velar no céu da boca
estrelas mortas
de negar auroras