Seis poemas de Diana Pilatti
Diana Pilatti. Professora e poeta. Nasceu em Foz do Iguaçu/PR, mas mora em Campo Grande desde menina.
Autora dos livros Palavras Avulsas (2019) e Palavras Póstumas (2020).
Participou de várias coletâneas e revistas. Organizadora da Mostra Poetrix (2020).
Divulga poesia nas redes sociais em seu blog pessoal | POESIA | DIANA PILATTI |.
***
o poeta está morto
“então eu não disse nada e amassei o amor tentando esquecer.”
O peso do pássaro morto, Aline Bei, 2017
sob a palavra imóvel
já sem ritmo ou alegorias
-o poeta está morto.
na retina da noite
um verso cego sem fio
-o poeta está morto.
cala-se o orvalho
Vênus quebra-se oca
-o poeta está morto.
ilegível
poesia-rascunho
nas vestes da morte
pandêmica foice
fútil
o poema
sem cerimônias:
-Toca, Barqueiro!
Fique com o troco…
Pois o poeta
está morto.
*
tempo
qualquer alegoria elíptica
é insuficiente para desenhá-lo
giros
órbitas
rugas
ponteiros
temporargênteas
uma foto 3×4
migalhas
me inundo da fuligem que entra pela janela
é frio
e me detenho
já que não posso detê-lo
tempo
essa fera
que me mastiga
e roe
até os ossos
*
nunca estou
nunca estou
além da fronteira e aqui
mente verso
anáfora – sou o lá
na cantiga ausente
quem sabe alí
quântica outra
me falto
sou lapso
a fuga
talvez aí
descoordenada
fora do compasso
você sabe
o mesmo traço
nômade de si.
*
O muro
há no muro uma beleza de vão
uma beleza de fresta
há no muro um tempo lento
meio
musgo
meio
caramujo
cara
muro
concha
musgo…
e vão
convite
no muro
da curiosidade palpite|a|nte o peito
absurdo
em querer espiar | e n t r e |
aqui e aí
no vão do muro
no muro em vão
na fresta bela |o|tempo |a|era
ecoando no verso
lento
em vão
no muro
e se há beleza mesmo
espero
espio
o outro lado
invento…
*
desejo
a que veio o poema?
nada ambiciona
além do desejo
único
de ser lido
vibra
ainda rascunho
cintila
a cada palavra a limpo
mas oculto
o poema
fenece
míngua
enlouquece
*
cuspe
um poeta amarelo
escorado no ponto de ônibus
mastiga a palavra ardida de estrela
cospe um verso
e o asfalto árido cristaliza num poema rançoso
-tempos difíceis
afirma para si mesmo
desdenhando da vida ferina:
-já levou minha graça
meu silêncio
e agora minha poesia
esta de chorume noturno
asco na boca perolada das musas
no bucho do nada
eu poeta
abandono e manhã
cuspirei orvalho na cara do dia
pois teimo
e teimo
abro o peito
para escorrer
livre
uma última poesia
Diana pilatti
Uma alegria enorme estar por aqui.
💜
Elias Borges
Amei vê-la por aqui. Amei os poemas. Ah o tempo, enquanto houver poetas os filósofos terão companhia para conspirar com a eternidade. Abraços Diana Pilatti.
Rozana GASTALDI Cominal
Parabéns! Poemas fortes!
Diana Pilatti
Obrigada pela leitura.
Elias Borges
Amei todos. O que fala do Tempo evoca um dos meus filósofos predileto, Heidegger. Mas esse é o meu predileto, acho que porque sou um voyeur:
O muro
há no muro uma beleza de vão
uma beleza de fresta
há no muro um tempo lento
meio
musgo
meio
caramujo
cara
muro
concha
musgo…
e vão
convite
no muro
da curiosidade palpite|a|nte o peito
absurdo
em querer espiar | e n t r e |
aqui e aí
no vão do muro
no muro em vão
na fresta bela |o|tempo |a|era
ecoando no verso
lento
em vão
no muro
e se há beleza mesmo
espero
espio
o outro lado
invento…
Diana Pilatti
Obrigada, Elias!
MarIa Ali
Que DELÍCIA de poemas e o cuspe entao 😍
Diana Pilatti
Obrigada! também é um dos meus preferidos.
Bruno Alberto de Araújo
lindos versos!Emocionantes,Telúrico seu escrever de uma sensibilidade enorme!
Diana Pilatti
Grata por sua leitura e comentário.