Seis poemas de Érica Azevedo
Érica Azevedo, natural de Santo Estevão, Bahia, é graduada em Letras Vernáculas pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), mesma instituição em que se especializou em Estudos Literários e defendeu o mestrado em Literatura e Diversidade Cultural. É professora de Língua portuguesa, Redação e Literatura. Participou das coletâneas Sangue Novo: 21 poetas baianos do século XXI (Escrituras, 2011), Confraria Poética Feminina (Penalux, 2016), Confraria Poética Feminina volume II (Penalux, 2018), O Sarau: doze poetas viscerais recitando na boca da noite, (Mondrongo, 2017), Outras Carolinas: Mulherio da Bahia (Penalux, 2017), Conexões Atlânticas (In-finita, 2018), Tudo no Mínimo: antologia do miniconto na Bahia (Mondrongo, 2018). Publicou Vida em poesias (Edições MAC/ Feira de Santana, 2002), Outros eus (Kalango, 2013), A chuva e o labirinto (Mondrongo, 2017). Integrante da plataforma Escritoras Negras da Bahia e Mapa da Palavra. Edita o blog Outros Diálogos.
Os últimos dois poemas são inéditos, compõem futuro livro da autora.
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O POETA E O LABIRINTO
O poeta não está morto.
Apenas agoniza no labirinto
da linguagem
buscando decifrar
sua própria face.
A cada verso encontrado
um enigma se refaz.
(A chuva e o labirinto, Mondrongo, 2017)
*
RELÓGIO
A hora passa
com a música que toca no rádio.
O minuto desaparece
com o sorriso ensaiado nos lábios.
O segundo segue
como um sopro de instrumentos.
Nas paredes, ainda o mesmo tic-tac.
(A chuva e o labirinto, Mondrongo, 2017)
*
FADA
O líquido sol acalma
e reabastece o olhar cansado
da menina peregrina.
Um labirinto de anseios e lembranças
é o seu caminho.
Sentada no colo
do Destino
a moça busca um perfume
desconhecido
que a atrai há tempos.
Nenhum dos dois tem pressa
e ela permanece silenciosa
a olhar apreensiva o caos
que nos rodeia.
(2º concurso literário do servidor público, Fundação Luís Eduardo Magalhães, 2015)
*
DESAJUSTE
Uma borboleta intrusiva
Insiste entrar no casulo.
O experimento do mundo
fora demasiado doloroso.
(Confraria Poética Feminina, Penalux, 2016)
*
RITUAL
Meu útero expulsa memórias
dos porões e açoite:
meu dna constrói palavras-mares
que dançam carregadas de sonhos
e rasgam os silêncios.
*
POEMA TRISTE
Os olhos não mensuram
a tristeza que o peito [do outro]
acomoda.
No papel desdobram-se as chuvas,
as cinzas e o fogo dos dias:
Um verso doloroso salta
com a espinha dorsal quebrada
e gosto de lágrimas.
A tristeza guarda os fiapos
da dor que se foi
e continua sendo.
gláucia lemos
Os seus poemas, Érica, enobrecem a poética da nossa terra. Suaves,Mas ofeRecem a profundidade do sentimento no qual tem. raizes. gosto deles. Gláucia Lemos.