Seis Poemas de Gabriel Ribeiro
Gabriel Ribeiro é graduando em Letras pela Universidade Federal de São Carlos, teatreiro e um amante da escrita. Nasceu na Morada do Sol, Araraquara, SP. Escreve porque é o que lhe cabe, o real motivo não sabe, caso descubra não fará mais sentido sua escrita. Sua poesia é o cotidiano, o absurdo e o subversivo.
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Brasil, meu Brasil brasileiro
estar
aqui
é querer
arrancar
os quatro
dentes
do siso
com as
próprias
mãos
[em uma puxada só]
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Dois países do peito
Nossos pés estão frios
Ainda sentimos a ponta dos dedos
Por um banho de sol matinal
matamos monstros mitológicos e
negociamos o que já está perdido
Pelas manhãs brincamos de inventar nações,
com dimensões exatas de companheirismo
Nosso filhos, netos e bisnetos
Nascerão com duas nacionalidades,
dupla cidadania,
dois países no peito:
Este amargo, que herdarão de nós,
onde se mutila a mãe terra
para enxertar seus incontáveis mortos
onde não há libélulas
se debatendo na superfície das águas,
porque não há mais libélulas
E um outro país, pendurado nas nuvens
Moldado em esperança e sonho.
Onde se desenha constelações com mãos de infância
E as libélulas são novamente fadas.
Um dia desses, as crianças inventaram
uma nação do nosso quintal,
feita de papel machê
Uma terra de uma só lei:
quando se sentar ao balanço,
escolher o lado que se vê o céu.
Pois quando as pernas estiverem no alto,
seremos pássaros. E lá de cima,
nossas folhagens estarão sempre verdes, em florescência.
Sem espaço para as flores amarelas medrosas.
Um país inteirinho azul, onde se pode cantar o amor sem medo.
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Estatística
Uma duas três quatro pancadas dois três chutes depois de oito nove dez palavrões e quatro dúzias de doses diárias de proibições um sequestro no início um cárcere constante do começo ao fim uma duas três quatro pancadas dois três chutes um pontapé bem forte ali no ventre grande que guardava uma vida dentro de outra e uma duas cem mil infinitas possibilidades e sonhos e muita dor muita muita mais muita dor e seis sete murros catorze quinze tapas e uma asfixia que só não matou porque teria mais uma duas três até que água serpenteando uma e duas coxas e joelhos e pernas serpenteando até o chão água e depois sangue em um dois cinco seis sete segundos uma poça vermelha e muita dor muita muita mais muita dor e uma e duas lágrimas e mais outras a mais e toneladas de desespero e fim.
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Grande aldeia Brasil
Invasão de merda começa com
Cu
Buraco do mundo,
se estiver nu, não olha
Vai vestir nossa gente por qual
dos anais prazeres teus?
Nas margens do mar,
nas beiras do rio,
nas pregas do cu.
Portugal,
Portoanal,
Roubapau.
Vai, portuga!
Corta esse pau mixuruca
e enfia o ouro no olho do olho
da europa.
Bota roupa nesse animal;
cobre as tetas da índia;
esconde o vermelho do Pau do
Brasil
com seus trajes escatológicos.
Jaci, Iraci, Peri, senti a dedada aqui,
Portugal gosta de anal.
anel para escambo em troca de escravo
Fica, vossa majestade, com o espelho
e vê se enxerga além do umbigo,
Desce um pouquinho e olha para o cu.
Emenda na boca e volta para o teu continente
bem longe, distante
há vários mils ânus luz
Cheio dessa gente
de bunda rosada
que se acha azul
Vento que venta lá,
aqui faz caravela afundar
Nas nádegas profundas
da Grande Aldeia Brasil.
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Manual de instruções para sobreviver aqui
1.
Empurre o cisco
da parte superior da pálpebra
para a inferior.
pois lá,
é mais fácil de aguentar.
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Âmbar cinza
Nos olhos de albatroz
mirando os bichos da areia
Grandes corações e atentos
A liberdade é um ambar cinza
no meio do oceano
Somos jovens
Há fôlego em nós para o atlântico inteiro
E há também uma cachalote
sobre os nossos pulmões
Nossa juventude
ainda
não está perdida
Embora nossa vida agora,
tenha cheiro de fósforo
e gosto de solidão em alto mar.
De onde estamos não se ouve as gaivotas,
massacradas na enseada
formam uma revoada de plumas.
Aves que devoram aves.
Há um tanto de arte na morte.
que faz a gente esperançar.
Somos jovens,
Ainda há o que se temer,
A coragem só nasce na rebentação do medo.
Não há perigo nas grandes tempestades
Quando se deixa de ser marítimo
para ser bicho do mar.
Há farol.
Ainda.
Amanhã é outro dia
Lucas valente
Muito bom, adorei❤️