Seis poemas de Rayssa Oliveira
Rayssa Oliveira é uma escritora preta lésbica que escreve sobre mulheres pretas e lésbicas. Tem contato com a escrita desde nova, e é completamente apaixonada, para a mesma, a escrita significa tudo, é a base da sua existência. Ama o rap nacional, o samba, o R&B, e, nas horas vagas, ama desenhar. Nascida em Niterói em Rio de Janeiro, mora em São Gonçalo desde o seu nascimento, e adora a sua cidade e seu estado.
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A revolução é Lésbica
É revolucionário quando estou junta a outra mulher
É revolucionário mesmo quando só,
Não nego que meu amor é —unicamente— a outras mulheres
É revolucionário quando em união estou fortemente
Com outras irmãs lésbicas em luta,
Luta que é em forma de resistência
É revolucionário quando rejeito tudo aquilo que me foi imposto
E exclusivamente as amo, não por capricho,
Mas porque todo o meu amor é sobre elas
É revolucionário quando existe e resisto,
Afinal, a revolução é lésbica
E sempre será.
*
Inúmeras Versões De Mim
Já encontrei esta versão,
Neste mesmo salão,
Salão de baile
Onde toca A minha música
Aquela que és tão suave
E que, logo, suavemente
Vai de encontro à mim,
Não falo mais da música
Sim daquela versão que encontrei
Encontrarei e que estou ao encontro
Vou a outros salões procurar novos sons, vezes curto sons áridos, mas não engano a mim, no final, todas as inúmeras versões serão somente uma, e esta uma sempre será eu.
*
Mulher Preta
Traços de uma mulher preta
que viveu boa parte da sua adolescência
clamando todos os dias por uma rinoplastia
Traços de uma mulher preta que em sua infância
queria o cabelo sem volume, grande e vezes liso,
já não aguentava mais ser zoada por outras crianças
Afina o nariz com maquiagem, faz escova em seu cabelo
esconde seus lábios grandes com um batom nude qualquer
e vai para a rua, espera com intensidade ser aceita
Espera ser a “mulata do carnaval”
ou qualquer coisa que a afaste da negritude
entretanto, os olhares de reprovação continuam
Pois continua com o seu nariz de preta,
com a sua boca de preta, o seu cabelo de preta
com a sua pele que é preta
Continua com o seu corpo de mulher preta
que vezes é marginalizado
vezes é sexualizado, e nunca aceito
Traços de uma mulher preta que agora,
não nega a sua negritude
que é tão linda e forte
Traços de uma mulher preta
que coloca a cara nesse mundão
sem vergonha da sua aparência
Traços de uma mulher preta
que é resistência,
e é muito preta.
*
Perdida em mim
Quero estar longe,
de mim,
longe dessa grande
carga negativa
que coloco-me sem pensar.
Contraditória a forma
como às vezes me faço mal,
e logo após fico triste
pois tudo o que desejo
é o meu bem.
Teria como eu me afastar de mim sem me perder?
*
O medo que me cerca
Ao andar pelas ruas
sinto cheiro de morte,
meu coração bate aceleradamente
e escuto um grito muito forte:
“— Morra, negra!”
Continuo pelo meu trajeto
sem ter certeza se chegarei.
Juntamente ao meu coração
que bate com rapidez
estão minhas pernas trêmulas
(mal consigo me equilibrar)
Paro por uns instantes,
respiro fundo
espero me acalmar,
escuto um grito mais uma vez:
“— Morra, lésbica!”
Com muito medo anseio pelo meu lar,
sequer sei por quanto tempo estarei viva.
*
Encontrei a mim
Me percebi, me encontrei
Tarde demais ou cedo demais
Pergunto-me se na hora certa
Não sei
Sei que achei
o melhor que há em mim.
Estou mais feliz
Sou eu
com sinceridade
Seguindo a minha diretriz
com a verdade
(que antes fugia)
Agora tenho o melhor de mim.
clini
Rayssa é incrível! poemas cheios de verdade, força e graça! admiro!