Sete poemas de Bruna Berthond
Bruna Berthond, pós-graduada em escrita criativa com especialização em storytelling, apaixonada por boas histórias, tenho a escrita como a arte que dá sentido à vida.
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coragem
ter coragem para te amar
é coragem para me amar também
eu afundava em você muitas vezes
querendo aprender mais sobre mim
então se somos perigo
eu acendo cada chama
– Lidar com uma culpa que sequer existe – sentir-se culpada por amar? – mas eu me sentia
entre a coragem de estar com você
e o medo de estar com você
me afogo ao querer fluir
*
radinho de pilha
naquele radinho de pilha
todas as canções cantam teu nome
sussurram
noções comuns de como funciona o amor
descer do ônibus e caminhar na tua direção
mulher
esta é a minha vida agora
memórias de Santos, canal 3 às cinco da tarde
céu rosado de um dia que já dava tchau
não esqueço mais
a embarcação que corta o horizonte
é difícil não lembrar entre esses dias
o quanto nos gostávamos
*
cachoeira
era você
que a vida me devia
e a sorte me trouxera
senti seu anel se apertar entre nossos dedos
e o arrepio do seu braço quando encontrava o meu
toda parte consciente em mim
estava na mão que você segurava
então pulamos de olhos fechados
imersas
o sol nos chamava para fora
mas afundamos em câmera lenta
*
chama
sempre foi sobre ti
cada verso e cada escolha
mas que bobagem o amor
sempre foi tão fácil pra você
então se somos perigo
eu acendo cada chama
*
espelho
uma fresta da janela atenta meus olhos para fora
me mostra que o mundo é grande demais
eu andei por quilômetros tentando me encontrar
mas só bastava olhar no espelho
eu não quero ter que me enfrentar
*
nós
coloquei um pé para fora
do nó que a vida deu em nós
agora o que faço com todas as frases que dissemos?
sua voz ainda ecoa na minha cabeça
eu não soube o que fazer quando faltou você
*
céu
tudo vacilou
o mar me surpreendeu com um sopro
brisa ardente, espessa, seca
o céu abriu-se em toda a sua extensão
laranja e vermelho, como fogo
e você desaparecia como se nunca tivesse existido