Sete poemas de Helaine Santos
Oi, meu nome é Helaine Santos, sou sergipana, preta, gorda e bissexual. Venho de uma família humilde e muito amorosa. Quando criança, meus pais tinham uma pequena livraria, lembro brincar com os livros atrás do balcão, enquanto minha mãe atendia seus clientes. Mesmo antes de aprender a ler, eu já folheava livrinhos infantis, tentando adivinhar a história por trás das ilustrações. Ali, minha imaginação voava para outros mundos… Desde muito novinha comecei a escrever poesias, elas sempre me ajudaram a lidar com meus sentimentos e a encontrar a minha essência. Desejo conectar pessoas por meio das palavras, mostrar minhas vivências e o meu olhar sobre o mundo.
***
Lar
Sentada,
Em frente minha velha casa,
Olhei para o céu.
Buscava sonhar com estrelas.
Queria roubar a força de sua luz,
Enquanto brincava de mãos dadas com o invisível.
Neste instante esbarra sobre mim o bafor do vento
Que estremece a noite mais calma,
E traz vida ao silêncio infinito.
Ali,
hipnotizada pelo farfalhar das folhas,
Me encontro em paz.
Como se não houvesse mais eu e o mundo…
Como se fôssemos um só.
*
Poetisa
As linhas do meu breve relato serão tortas,
Pois não poderia refletir esta vida de forma retilínea e uniforme.
Retas não lhe fazem jus….
Por vezes prosa,
Em outras poesia,
Soneto triste
Ou monólogo abstrato,
Da carne me faço palavra.
Pois quando escrevo
Liberto-me deste cativeiro.
E alí,
Dança com palavras
Que vieram de mim
E não só de mim.
*
Íntimo
Tenho uma mente inquieta,
Um corpo que lateja,
E uma alma que teme.
De que tens medo?
Perguntou a mente.
Em resposta, minh’alma disse:
Temo que na busca incessável pelo extraordinário, se esqueça de que guarda em si mesma o poder para transformar a vida.
Basta respirar de sua própria essência…
*
Lembranças da morte
E as sombras,
Velhas perseguidoras noturnas.
Lembram-me,
“Não tenha medo da morte”!
Elas dizem:
“Não há segredo quanto à morte.Todas as noite, ao dormir, todos morremos um pouquinho”.
*
Ansiedade
Quando carcaça,
Minh’alma lutava ao esvair-se de mim.
Seus gritos ecoavam em meio ao nada.
Exalava medo,
Sufocava angústia.
*
Menina
Gira menina,
Transforma teus movimentos em canção.
Mostra tuas curvas,
E esquece as lágrimas.
Viva!
Sim, sobreviva.
Ama teu corpo, abraça a liberdade que escorre na palma dos teus pés e perdoa se um dia não conseguiu ser feliz.
*
Fogueira
Das mãos trêmulas,
Um suspiro fulgas
Que lembra o sabor do teu cheiro.
Quando me olhas
Arde por dentro.
Me sinto queimar.
O que acontece quando a chama apagar?
Quando não mais suspirar?
Diga que não vê,
Que não sente ou entende.
Mesmo assim olhe…
atravesse minha carne,
Sinta minh’alma,
Me faça queimar!