Sete poemas de marcus vinícius
Mineiro nascido em Uberaba, marcus vinícius licenciou-se em Letras pela Universidade Federal de Uberlândia. Atualmente cursa Mestrado em Estudos Literários na mesma instituição. Publicou de forma esparsa poemas e contos em antologias, calendários e revistas. HOJE É DIA DE jOANA, lançado em 2019 pela Editora Subsolo, é seu livro de estreia na poesia.
***
Aquela tigela foi
um gatinho.
Não.
Foi um peixinho dourado.
Melhor:
Um garroxinho
a quem se deve limpar
cuidadosamente
as paredes do banheiro
antes de deitarmos.
Limpas de todo erro
mofo, umidade
(pouco a pouco
um ou dois panos
algumas viagens)
depois deitar-se
além do princípio
de ancoragem
da bala coesa.
Muito prazer,
mia
tigela
que ora
borbulha:
orgulho impossível
é pescar sons
num palco cerrado;
mas impossível mesmo
é manter em dia
os cuidados veterinários
do armário da cozinha.
Essa é a verdade visível
das metonímias,
Não é permitido esquecer.
Aquele peixe foi um gato dourado
aquele garoto, um peixe roxo.
11.12.19
*
O armário de R. Proença
Pétalas de beterraba
Antílopes amordaçados
1. Proença en Provence
ou
Norma Andrews detrás da nódoa
Pra mim tanto faz.
20.12.19
*
A cristaleira de R. Proença
O feno de noite.
O falcão hirsuto.
O punho.
Caimão e aligatores.
Crocodilos voltando
à noite
a foices.
Nenhum esquilo
ou coice.
22.12.19
*
Autobiografia de R. Proença
Filho do conúbio espúrio
da penúria e do engenho.
Feiticeiro ávido, caçador
de inventivas.
Dorme ao relento, eterno
opulento mendigo.
Dorme ao relento, neto
da astúcia e do signo.
09.01.20
*
Infinito cabrito, vem.
Cobra-me pujança e sumo.
Faze de mim raiz, erva
Horto que medra só.
Cabra-cega do desejo,
Torna-me seiva de andanças.
De mim, faze a folha-máter
Do azul, tornassóis.
Faze-me. Romperei jardins
Doridos de instante,
Infinito cabrito. Te desejo
Seiva cega, bode pulsante
E eu serva do revés, teu pejo
Teu delírio, tua matéria.
Cabra-cega do infinito,
Faze-me cabrito de novo.
30.12.19
*
you can write anything
you can write about anything
you can write just about anything
você pode traduzir
pode assinar
você pode escrever alguma coisa
sobre qualquer coisa
poeta
pode rubricar
sobre passavrear
no lombo de pássaros e paçaros
na lombra de isadora
de isidore
ou ficar chão-a-chão
feito o manoel
e ir de lombar da folha mesmo
pode cantar a glória
da multidão de pedestres
que impôs a espera aos carros
finalmente
ou
cantofalar sobre não praticar
as políticas do adoecimento
obrigatório
sobre nunca
se interpôr entre o olho
e o tal-do-gatilho
sobre engatinhar
p’la avenida para tudo
o mundo ouver
pode
glosar as estrofes seguintes
em que você vinha tentando
(algo sincero)
imitar a marília garcia
por que um posfácio
ao parque das ruínas
(crítico sem ser hermético)
te chamara mais atenção
que um encontro com marcos
siscar
(pode recortar um enjambement
do joca
biella
replicá-lo
e gozar de bom grado
a preferência pela boa poesia
de facebook
somente a lavra
em que o poeta recusa
o poema
o poema o poeta
e a rotulária inteira
descartável
como a poesia maior)
ou pode
poeta
alimentar ainda mais
seus desafetos
e desgostar publicamente
duma explanação
ilustrada com capas
do inimigo rumor
(feita pelo marcos
siscar)
por ser longa
enfadonha demais
talvez
(como este poema)
ou apenas dizer
que os nos 13 e 9 da revista
seguem disponíveis
no site da editora 7letras
reduzindo o poema
a peça publicitária
logo antes de ir embora.
6.12.19
*
Pedido de desculpas a m. siscar
Não há crise alguma
nem mesmo de colocações.
Apenas um rato enfadonho
a roubar-me o prato.
Não rói.
Não sou rei.
Sequer real.
Se me ignora a roupa
é por que vivo
ostensivamente
minha própria mudez.
02.02.20