Sete poemas de Maria Paula Fernandes Rosa
Maria Paula Fernandes Rosa, 16 anos. Nasceu em Barra do Garças, Mato Grosso. Atualmente cursa o ensino médio e tem o grande sonho de publicar um livro (ou muitos!). Começou a escrever aos 10 anos por influência de um livro infanto-juvenil de Paula Pimenta, de nome “Minha Vida Fora de Série”. Na trama, a protagonista recebe poemas de um garoto que gosta e Maria Paula desejou que alguém fizesse o mesmo por ela, como ninguém faria, ela decidiu fazer para si mesma. Começou a escrever e nunca mais parou.
***
Amor sombrio
as trevas parecem me aprisionar,
toda vez que tento sair,
elas não me deixam escapar,
mas eu já desisti de fugir
pelo menos a escuridão deve me amar
não do jeito que eu queria,
mas do jeito que as coisas estão hoje em dia,
é melhor eu aceitar…
ela me envolve em seus braços escuros e me deixa descansar
na luz eu não poderia,
mas no escuro eu me deixo levar…
todos os pensamentos que eu poderia pensar
nesse breu que deveria ser horrível,
eu sinto que tudo é possível,
o que eu era antes, já não sou mais
e não voltarei a ser quem eu era, jamais.
*
Peixe sonolento
essa noite o meu quarto se tornou o mar
me senti um peixe sonolento
que durante todo esse tempo
só conseguiu chorar e chorar
meu quarto ficou inundado
não sabia se pelas lágrimas ou a água do mar
mas era salgada
e parecia que nunca ia acabar
mas tudo na vida acaba, essa é a verdade
às vezes o que nem começou acaba
como a felicidade, ou um sopro de vida
que se vai como uma tempestade
eu era um peixe sonolento quando o meu quarto se inundou
não sabia se era o mar
ou se o meu coração que furou!
eu só queria chorar e lamentar
lamentar sobre esse mundo doente, sem amor
tanta coisa que aconteceu e que mudou
as pessoas tentam mudar,
enquanto para outras, nada adiantou
parece que tudo está tão triste, tão vazio
o calor se foi e ficou só o frio
mas não há um abraço que possa me esquentar
das outras pessoas eu não posso me aproximar
o meu quarto ficou cheio de água salgada!
e eu fiquei sozinha, isolada
um peixe sonolento
encalhado numa ilha abandonada…
*
Estou sofrendo por amor
estou sofrendo por amor
reconheço toda essa insuportável dor,
dor que ainda não senti
e nem vou
será que sempre viverei nesse vazio?
sentindo sempre o mesmo frio
mas nunca aquele calor amigo
de quando se tem alguém consigo
alguém que me espere depois de um dia cansativo
que esteja feliz só por estar comigo
que me olhe nos olhos e diga
que vai me amar por toda a vida.
*
Medo
o meu choro é agonizante
a saudade no meu peito machuca
a ferida é latejante
o sangue que escorre é torturante
meu deus, o que será de mim?
espero que não seja sempre assim
a solidão é tão presente
a tristeza é onipotente
pensar em te perder faz cada centímetro do meu corpo doer
e ficar por mais tempo sozinha,
certamente me fará morrer
o que sinto agora, jamais irei esquecer
a tristeza me devora, por dentro e por fora
já não vejo mais motivos para sorrir
minha maior vontade é sumir
é como se minha alma lentamente se esvaísse do meu corpo
tudo se torna preto e me cobre aos poucos
como um grande manto negro que veio me sufocar
esconde a minha luz, não me deixa respirar
a dor que sinto é indescritível
eu tento te alcançar, mas você é inatingível!
imploro para que não me abandone
grito por ti, e te chamo pelo seu nome!
esses sentimentos de pura melancolia
me fazem pensar se um dia
serei feliz novamente,
nem que eu tente e tente e tente e tente…
*
A arte
vós sois o símbolo da eternidade!
és tu, a beleza da mocidade
o que lhe digo é verdade
tu és a poesia na humanidade
teus versos eu adoraria ler
o teu corpo, gostaria de descrever
tuas páginas eu quero visitar
e os teus lábios… eu adoraria beijar
estou apaixonado por ti
faço tudo para ver-te sorrir
mulher, tu és arte!
seria impossível não amar-te.
*
Abusivo
o que eu precisava talvez não estivesse em suas palavras
mas em seus atos
e em suas grandes mãos
que não catavam os meus cacos
e não importavam-se com os nãos!
inocência pura e mocidade…
lhe empolgava a minha beldade
talvez eu fosse mais do que você
talvez fosse essa a razão de tanta maldade!
a família se resume em amor
não importando o quanto se causa a dor
é impossível dormir
você sabe por quê
meus sonhos já não me protegem
do que eu não quero ver
a casa já não é mais lar
o inferno é mais convidativo
é preferível ficar sozinho
do que dormir contigo
a solidão se faz presente
ela, no entanto, se mostra mais decente
o meu medo nunca se acaba
é como se tudo fosse tão recente!
as grandes mãos não vão embora
são elas que escondem a luz do sol
agora acompanhada,
mas mais uma vez, me sinto só.
e agora, o que farei
se o gosto do doce me parece tão salgado?
agora que a vida perdeu o sentido
e o presente já é passado…
*
Cigana
escuto-o de longe,
clama o meu nome ao vento
desesperado, atormentado
vem para mim, o branco amargurado
pede perdão pela ausência de dias
fala, como se disso esperasse a minha alegria
como se pensasse que se me chamasse, eu iria
não fui, e nem ia
estou presa, acorrentada
não sou sou gente nem humana
sou monstro,
sou cigana
achas que faz-me um favor
prendendo-me, escondendo-me
enchendo-me de dor
sendo que nem conheço o amor…
a mim, eles querem queimar
o branco só quer ajudar
mas aos poucos,
sinto que a saudade quer me matar
sou moça nômade
quero sentir a felicidade!
grama em meus dedos, a bondade…
dos frutos, a fertilidade!
quero sentir o vento em meus cabelos,
quero esbanjar minha mocidade!
o cheiro das flores, o abraço da natureza,
ah, dos campos a pura beldade!
as cartas, as viagens, as sortes
quero tê-las para mim
mas o branco informa-me
que não é bem assim…
enquanto o povo tiver preconceito
enquanto não tiverem um melhor conceito
a saudade ficará fincada em meu peito
clamo por misericórdia, eu grito por respeito!
a falta das cartas matam-me devagar,
agora só consigo ler o azar
a tristeza consome-me, corrói-me
gradativamente, a morte vem levar-me…
meu coração antes tão solto,
hoje está enjaulado, não sinto mais nada
se não for para viver livre
prefiro morrer enquanto aprisionada…
ele diz que me ama
pois então deixe-me ir!
eu não deveria estar aqui, é engano!
sem ser independente, não posso existir.
como passarinho preso
não quero cantar
e se canto, meu canto é triste
pois é este o meu chorar…