Sete poemas de Rui Effe
Rui Effe vive e trabalha entre Porto e Lisboa. É Licenciado em Artes Plásticas pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, possui Pós-Graduação em Direcção Artística pela Escola Superior Artística do Porto, Pós-Graduação em Comunicação Artística e Expressão Plástica e Mestrado em Artes Plásticas e Comunicação Visual pela Universidade do Minho. Doutorando na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Vigo. – Pontevedra. Encontra-se representado em Colecções públicas como Privadas, quer nacionais como internacionais. Paralelamente vai escrevendo e convidando atores a “dizerem” os seus textos. https://soundcloud.com/ruieffe-1
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O amor
é feito de sorrisos e vem de longe.
Vem de outro lado,
onde dizer que te amo, não se diz deste modo.
Lá, as letras incham de água e juntam-se de outra forma.
Inflamam, ganham peso, perdem peso, voam,
vão ao céu, rodopiam e voltam
e, sem formar palavra, trepidam,
trepidam mais e mais
até se desprendem-se no ar.
É disso que o amor é feito;
de tropeços e viagens disléxicas,
de sorrisos, tremeliques e
coisas outras que caem das nuvens
em partículas pequeninas.
*
Um poema nasce como pode.
Pode por uma vontade, um espirro.
Pode por um livro, um texto, ou filme,
um mito, um facto,
um costume ou algo que se entenda acostumar.
Pode pelas lágrimas e almas menos salgadas.
Pode pelos limites, pelas bordas, beiras e lados,
pelo extremo, pelas margens.
Pode pela conquista de vastos impérios,
pela terra, pela casa ou toca de lama.
Pode pela carne, batalhas, beijos e cavalos.
Pode pela resiliência, insistência e tonturas.
Pelo tudo, pelo leviano, pelo quase nada. ( nulo)
Pode pela imagem do que só se sente.
Pode no ocidente,
no oriente e em qualquer parte do peito.
Um poema nasce como pode,
quando pode, a seu jeito.
*
por ti a dentro
Assim foi,
muito em frente à escadaria,
muito perto do primeiro degrau.
Limpei os pés e subi-te.
*
O tempo também é de memórias que salgam as feridas.
*
Métrica do dia-a-dia.
Não há caminho nem desvio que não esse que se afila.
Ferram-se nas costas chicotes e obrigações de sentido:
Ordem; ordem de marcha, galope em frente.
Até que se rasgam em relinche os cascos no arrasto ao fuzil.
Até que se sequem as Bocas e as Pernas nas gagas saídas.
Ordem, marcha, galope em frente.
Porque
o tempo é mais rápido num punhado de tulipas,
Ordem, marcha, galope em frente.
E no peito, em menos de qualquer demora,
uma bala que desliga as resistências do possível.
Ordem, ao chão, a marcha e todo o peso,
por ordem ao chão,
todo o resto da fila.
*
Valem os pássaros, Amor.
Valem os dias amanhecerem com o alargar das narinas e
começar relógio pelos ponteiros pequeninos.
Enquanto é cedo, de cotovelos na dobrada,
Ajeito a boca às portadas
e consumo o mundo de olhos fechados. Engulo o céu,
aquilo que não é céu e todos os outros possíveis
que daqui não consigo entender.
Todo um imenso difuso,
todo um resto de ar que se orquestra e levita em voo as penas.
Valem os pássaros, Amor.
Valem os dias amanhecerem com os pássaros.
Valem todos os começos e fins contigo em chilreio no peito,
valem os calos e ir, pé etíope, mundo adentro enquanto me és cereja.
Haverá outra maneira?
(…)
July words – 17
work in vacances
O despertar do amante.
*
O amor
é feito de sorrisos e vem de longe.
Vem de outro lado,
onde dizer que te amo, não se diz deste jeito.
Lá, as letras incham de água e juntam-se de outra forma.
Inflamam, ganham peso, perdem peso, voam,
vão ao céu, rodopiam e voltam
e, sem formar palavra, trepidam,
trepidam mais e mais
até se desprenderem no ar.
É disso que o amor é feito;
de tropeços e viagens disléxicas,
de sorrisos, tremeliques e
coisas outras que caem das nuvens
em partículas pequeninas.