“Sorrisos amarelos – histórias de jovens mulheres orientais no Brasil” – Por Marilia Kubota
Na coluna quizenal “Outras faces”, Marilia Kubota publica resenhas jornalísticas sobre obras de autoras e autores independentes e da grande literatura, destacando escritos de mulheres não-brancas e de autoras e autores da diversidade étnica e sexual. Desta vez, o livro resenhado é Sorrisos amarelos – histórias de jovens mulheres orientais no Brasil de Marina Yukawa.
Marilia Kubota é poeta e jornalista, nascida no Paraná. Autora dos livros de poesia Diário da vertigem (Patuá, 2015), micropolis (Lumme, 2014) e Esperando as Bárbaras (Blanche, 2012) e organizadora das antologias Um girassol nos teus cabelos – poemas para Marielle Franco (Quintal, 2018), Blasfêmeas: Mulheres de palavra (Casa Verde, 2016) e Retratos japoneses no Brasil (Annablume, 2010). É Mestre em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná. Em 2020, lança seu primeiro livro de crônicas, Eu também sou brasileira, pela Editora Lavra.
A imagem destacada na coluna é de autoria de Carlos Dala Stella.
***
Sorrisos amarelos – histórias de jovens mulheres orientais no Brasil
Sorrisos amarelos – histórias de jovens mulheres orientais no Brasil (Eviseu, 2019), é um livro-reportagem escrito por Marina Yukawa. A jornalista entrevistou cinco jovens mulheres asiáticas, de etnias japonesa, chinesa e coreana, moradoras da cidade de São Paulo. Em comum, as cinco personagens carregam sofrimentos por terem experienciado abusos verbais, psicológicos ou físicos, sob forma de violência ou preconceito.
As mulheres asiáticas ainda são vistas como passivas, subservientes, submissas, frágeis, amáveis, comedidas e puras. Esta imagem é reforçada por narrativas na publicidade, em novelas de TV, na literatura e no cinema. O estereótipo oculta a violência em relacionamentos familiares, nos quais homens têm poder de decisão sobre corpos femininos.
Para compor o livro, Marina buscou uma linguagem próxima ao jornalismo literário. Pra abrir e fechar os relatos, compara a escrita ao ato de tomar banho frio num dia de verão. A metáfora refere-se ao aspecto de fluidez da escrita, mas também à relação aspectos materiais e sensação: a água e corpo, o corpo da escrita e a fluidez da palavra e a emoção desperta pelos depoimentos.
Sora, filha de mãe japonesa e pai baiano, por ter a pele mais escura, é rechaçada pela família, incluindo a mãe. Soo Ji, filha de coreanos, relata como o exotismo pode ser prejudicial. Na escola, todos queriam ser amigos, apenas porque era coreana.
Yuri, de etnia japonesa, sofre um estupro. Namorados ocidentais tem ciúmes dela. Os abusos só param quando se torna parceira de um asiático. A taiwanesa Ai Ni e a mãe viveram numa família em que misoginia e violência eram corriqueiras. A mãe sustentou a família, e o marido a agredia. Min Hi, filha de coreanos, tinha a vida controlada pelos pais. Não podia ir a festas, tinha a liberdade vigiada. O pai a impediu de cursar faculdade fora da cidade em que viviam.
As asiáticas sofrem com o mito da minoria modelo, preconceito e fetichização. O mito da minoria modelo exige uma disciplina rígida de comportamento. De acordo com este estereótipo, criado nos anos 50, nos Estados Unidos, asiáticos são inteligentes, trabalhadores diligentes e honestos.O estereótipo positivo não traz só benefícios. Esta imagem clichê impõe uma padronização de comportamento difícil de ser seguida pela totalidade da população asiática em diáspora. .
As narrativas recolhidas por Marina fazem entrever um universo além da bolha de imagens. Nem tudo são flores, canções ou séries . Há o toque amargo de famílias que tentam se adaptar ao ocidente, trazendo um legado de violência sob os sorrisos amarelos.