Três poemas de Thaís Mandarino
Thaís Mandarino é poeta, crescida no interior do estado do Rio de Janeiro. É formada em Jornalismo, estuda roteiro e está em processo de filmagem de seu primeiro filme como roteirista e diretora. Tem uma peça escrita a duas mãos – Crua – e está trabalhando em um projeto de livro de poemas. Escreve no blog http://oastrolabio.blogspot.com/ e é colaboradora do Projeto Colabora.
***
no deserto
o seu nome um oásis
no campo na beira da estrada
um cavalo sem dono diz olá
e me lembra do dia em que partiu
o caminho é longo
tentaram me dizer os olhos do cavalo
na mata
não há muito o que fazer
a não ser chamar seu nome
correr em círculos
chamar seu nome
na cidade
fuligem toma forma de culpa
e nos separa por trajetos
no meio dela
a encruzilhada onde me sento
ilhada
o horror:
esqueci seu nome
não acreditei nos olhos de um cavalo
*
o ser amado
uma planta murcha
um sol endiabrado
um espasmo de água viva
trago fino
como arranha na garganta
vidro espatifado na minha perna
seu mastro quebrado
seus dentes de vampiro
seus anéis de vencido
um grito de menino: mamãe
um grito de menina: papai
praga em plantação
escândalo em velório
vexame em sala de espera
um gole de café
que se toma sem vontade ao acordar
sua falta de sono
sua falta de noção
sua falta de dente
seu excesso de gordura
pó para um junkie do cinema
nó nas tripas de uma ovelha
este verme branco esta peste
que vaga por nós como se da família fosse
este salto
que se dá em direção a um outro
esta massa
que vai de encontro à Terra
úmida
e grotesca
*
coleciono caixas de fósforo
o professor cubano me disse
que em maio eu conheceria alguém
e em maio em você eu dei um beijo
você falava algo com as vontades do cinema
ou talvez bobeiras
que trocam pessoas de uma certa idade
de um mesmo lugar
a cidade do coração
onde nada é mais tão próximo um do outro
quanto o
ímã
que compraram pra você
quando te lembraram de um outro país
às vezes acho que não são eles surtando
mas você
muitas das poetas que gosto descubro
mortas
elas por elas
mas vencer é tombar
foi o que li essa manhã
enquanto tomava café
e distraída
fiz fogo