Três poemas de Bruna Mitrano
Bruna Mitrano (1985), autora de Não (Editora Patuá, 2016), nasceu e vive na periferia do Rio de Janeiro. É professora da rede pública e mestre em literatura portuguesa pela UERJ. Filha de camelôs, leu o primeiro livro de poesia aos dezessete anos. Em 2010, esteve entre os vencedores do prêmio Off-Flip. Publicou no jornal Plástico Bolha, na revista Mallarmargens, na revista Germina, no Flanzine (Portugal), na revista Tlön (Portugal), dentre outros. Teve textos traduzidos para o inglês no projeto Contemporary Brazilian Short Stories (Califórnia). Participou das antologias Algum vazio nesta paz fajuta (ed. Edital) e Clube da Leitura Vol. III (ed. Oito e meio). Com a exposição itinerante Dor, percorre espaços estigmatizados da cidade. Não é seu livro de estreia. [Apresentação retirada do site da Editora Patuá. Todos os poemas abaixo são do livro Não]
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houvesse a negativa
a rouquidão da mãe
seu dorso
os pelos revolvidos
aqueles dedos talvez
mas duas ou três historinhas mixurucas
e o oitavo branco esquimó.
gelo na língua: a cara lisa, lagrimando brasa, em riso esquizo cacarejento estala, essa dor do cão!
*
amarra pendura deixa pingar
que a terra seca apaga a última gota –
a galinha me olha de um olho só
ciclope de ladinho frango assado papai e mamãe
e o açougueiro gargalha
se sacode todo mole
tem larva na carne fresca e
não tem graça nesse lugar.
*
a impertinência da cura.
arrancaram meus caninos,
tenho as gengivas suturadas à mostra.
de medo: tormenta
[mãos de pólvora afagando o fogo]