Três poemas de Carol Sanches
Carol Sanches nasceu em Campinas. Tem poemas publicados em revistas digitais e coletâneas de poesia, entre elas, Quem dera o sangue fosse só o da menstruação (Urutau, 2019); é autora dos livros independentes Poesias pormenores (2008) e Toda diva tem divã (2009). Os poemas aqui selecionados fazem parte do livro Não me espere para jantar (Patuá, 2019), menção honrosa no Prêmio Maraã de Poesia 2018.
Os poemas abaixo foram traduzidos ao espanhol por Arturo Jiménez Martínez e publicados pela Ruído Manifesto no dia 4 de fevereiro de 2021.
***
XII
impossível conter meus lábios
nesta esquina, parada
ao ver dois jovens se beijando
no calor das primeiras confidências
envoltos do cinto invisível entre as ancas
com um desejo quase violento de romper a pele,
transpassar a barreira do corpo e chegar ao espírito,
esteja onde estiver
o tédio espera, nesta esquina
enquanto as salivas rodam, confusas
e as bocas sussurram à temperatura
dos hálitos de flor de primavera
me lembro dos não-beijados
dos quase-beijados
mr. darcy e ms. elizabeth
debaixo da figueira, sorrio
o vermelho é de um rubro clássico
em meus lábios, a pureza incolor
dos instintos
todos os amores se encontram
neste espaço de tempo
neste lote de grama
debaixo da placa de pare
antes do jardineiro
*
XIII
de tempos em tempos
a tia maria contava a mesma história
sobre como
em sua época de moça
despertava paixões
por onde passava
um dia, minha jovem,
um broto me disse ter namorado
uma moça
com o meu nome
com certo esforço
o meu rosto
imagine só: prêmio de consolação!
dizia rindo
entre tosses solavancos dedos
para cima
mas logo olhava para o lado
enquanto levava as mãos à boca
numa espécie de assombro
por passar uma vida
amada no escuro
às vezes revelava pavor
às paixões escuras
achava que grudavam nela
como magia negra
revolvendo seu coração
com paixões secretas
jamais correspondidas
pouco tempo depois
cansada do entretenimento
olhava para o lado
subitamente interessada
em atravessar
a placidez das paredes
*
XXXVI
rezava a lenda que quando ela passasse
o pedido viria às pressas
(estrelas não esperam)
talvez até evitem
o peso das passagens
esperava
meio atenta
pernas dobradas, íntimas
do meu queixo, joelhos
entre pequenos beijos
e vapores de ar: eu respirava baixo para não assustar estrelas
então acalmava por entre os dedos
as centenas de caroços acentuados
de frio
nas sombras
debaixo das nebulosas
a relação era minha
– mira, niña, la estrella fugaz –
era lenta e de cauda curta, como eu
desmerecia o céu
fazendo parecer que tinha todo o tempo do mundo
antes que mudasse de ideia
antes que fosse puxada pelo buraco negro
das corridas celestiais
disparando a galopes seus plasmas
seus gases
peguei pela cauda
montei a estrela
espanei os morcegos
e gritei:
mãe, não me espere
para jantar