Três poemas de Enzo Fuji
Enzo Fuji escreve poesia, mas não se considera poeta. Ainda não sabe o que quer ser e como quer que seja. Vencedor do prêmio da editora Lamparina Luminosa no estopim de 2017, junto com mais nove autores, que serão publicados em uma antologia. Publicou, no final do ano de 2018, aos 18 anos, o seu livro de estreia pela editora Patuá, Depois que seja tarde antes que seja nunca, com poemas escritos entre os 16 e 17 anos. Tem poemas na revista literária Mallarmargens. Ainda feliz, divulga os seus versos pelo instagram e facebook, conhecido em ambos como @enzofuji. Planta um sorriso em cada poema finalizado. A semente, diz ele, não se sabe onde pode germinar. Mas espera que germine. Os dois primeiros poemas abaixo fazem parte de Depois que seja tarde antes que seja nunca.
***
depressão
(II)
ainda que eu queira dizer o seu nome
e nele dedicá-lo todo o meu segredo
já não é mais possível
porque as palavras fogem de mim
assim como você já fez um dia
e assim como eu gostaria que as
mentiras fizessem comigo
*
protestar
entramos na rua,
pedimos licença a quem se
encontrava desajustado,
dissemos-lhes, é aqui
um protesto com suspiros,
um protesto de respirar,
com flores, de flores.
entramos na rua com roupas
de revolução,
indelicadamente,
sorrindo aos outros,
como se um sorriso fosse
indelicado, ah, mas era.
como que se entrar fosse
atravessar um território, uma
fronteira, boca sobre boca,
atravessá-las, pedimos licença
a quem tinha olhos a gente,
dissemos-lhes, será rápido,
é um protesto com suspiros,
um ato de respiração.
perguntaram-nos, que desejam.
dissemos-lhes, é pouco, custa
pouco, respirar como se fosse
ainda a única coisa que nos resta.
suspirar é ainda uma grande arte.
e respondeu-nos, deve de ser
uma crítica ao governo. e era sim.
um protesto com suspiros, e os outros
começaram a suspirar como quem
amigavelmente começa a nutrir
um respeito.
*
Decretos da nossa amizade em três atos
Ato primário – da busca pela eternidade.
Conduzir o abraço como ordem subjetiva de sempre amar.
Que sinta o peito enclausurado no outro, de forma a sentir os batimentos.
Que o milagre seja feito pela humanidade de reconciliação. Sejas sempre minha.
Ato secundário – das promessas sentimentais.
Estar estupefato pelo o que o outro estiver a fazer.
Que a memória seja um preceito comum às lembranças boas.
Que o nosso sorriso seja um espaço de alegria e tristeza, abdicando de certos descontentamentos para sermos como sempre seremos.
Ato terciário – de apenas estar
As bocas dirão coisas ridículas e sem capacidade de vida, coisas más,
um animal mau plantará a semente da nossa morte.
O amor seguirá nos unindo, mesmo que queiramos nos separar.
Quando sentir, e desse sentir, houver uma lembrança bonita.
Agora sim estará feita: a nossa amizade é infinita.