Três poemas de Fernando Terra
Fernando Terra é formado em Geografia. Em 2016 foi finalista do 3º Concurso Lamparina Pública na categoria POESIA com o projeto ‘Depois Do Fim Do Mundo”. Atualmente se dedica, de maneira autônoma, ao estudo da teoria psicanalítica/filosofias da imanência, além da prática da poesia.
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Erros
Assumo os meus erros
Sirvo o café da manhã e dou banho neles
Hoje fiz vitamina de abacate
Ontem os levei pra passear
Como latiram
Eu tenho erro que sobe na mesa
Erro que come sozinho
E até erro que sabe se limpar
Ontem estava muito calor
Resolvi dar um banho de mangueira neles
a tarde fiz mingau
comeram tudo
o terceiro erro virou pra mim e disse:
“tá gostoso, mamãe, quero mais”
eu disse: “guarda pra noite, filhinho
antes de dormir você vai querer um doce”
e assim foi
todo dia é assim
eu e meus erros
Não estou
daqui estou e não estou
não fujo
a árvore estava nutrida, bela e marrom
corria seiva verde
parei, bebi um pouco e caminhei
perto tinha um rio, me joguei
pulei com força, bati na água e morri de frio
fui no fundo
bati com a cabeça na pedra e voltei
subia e submergia
subia e submergia
vi um galho, pus a mão, tentei pegar, tava ocupado
tinha uma coruja que me disse: tá vago ?
eu : não, claro que não…
não veis que estou morrendo ?
o que houve ? disse ela
lesão cerebral grau 1, gritei
mas como cê sabe ?
fiz um checkup na pedra, já quase me afogando
tá, toma o galho, disse ela
peguei, fiz um danado esforço, o galho quebrou
cai novamente
vi peixes, galinhas, sapotis e nozes
não mais ouvi a coruja
tudo passava na minha mente
que mente ?
estava morto
era tudo alucinação de morto
morri quando dei de cabeça na pedra
Morri
Hoje fui comprar pão e morri
Morri escovando os dentes e lavando a louça
Morri quando abri a janela da casa
Ah, também na horta quando colhi manjericão
Abri a torneira da pia, morri
Deitei, cobri meus pés de frio, morri
Ontem no fim da tarde quando preparava um café também
Morro todos os dias de várias formas
Morro aqui e ali
no condomínio e na casa
Morro todos os dias
Morrer é normal