Três poemas de Joanna Fernanda Ramos
Joanna Fernanda Ramos. Apaixonada por leituras, fotografia e música, se aventura na escrita desde pequena. Graduada em Engenharia Florestal (UnB), gosta mais de pessoas que de madeira. Natural de Brasília, com origens nordestinas, não se intitula escritora, cuiqueira ou fotógrafa, mas acredita na abertura de todo possível.
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Carta ao Jovem Místico
Para mano!
Para de tentar enfiar sua positividade na minha garganta
Dizer que vai ficar tudo bem se eu pensar de forma comprometida com a felicidade
Que um abraço tem um valor inimaginável
Sabe o que tem um valor inimaginável?
Eu pegar um busão cheio, final de dia, e chegar em casa e ter comida
Tá difícil pensar positivamente passando 6 horas na condução vendo postagem do tio do pavê falando de tratamento precoce
Sabe o que nos une também jovem?
A fila do pão
Mas tá difícil, porque a fila do açougue para pegar osso tá maior
Antes de querer gourmetizar o meu corre
falando que eu sou um empreendedor
um CEO do meu tempo
Se conecta com a realidade
e lembra que ignorância e medo também constroem elos bem profundos
inclusive que fazem muita gente tomar a atitude errada
As melhores coisas não são coisas mesmo
A melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos
foi ver minha mãe criando pensamento crítico
conversar com meu pai sobre política e a gente se abraçar
ninguém querer colocar a mão no meu cabelo sem pedir
não falarem o preço de algum item sem eu perguntar
ver meus amigos e familiares se vacinando
me cadastrar para vacinação
e principalmente
receber a vacina de uma profissional do SUS
aqueles 5 ml mudaram tudo
a vacina não é uma coisa
é uma conquista
muito coisa dependia e depende disso
mudou tanto a vida
as atitudes
os hábitos
aqueles 5 ml me batizaram
SOBREVIVENTE
e esse é um final feliz sim
porque ano que vem tem mais
tem eleições.
*
Maria.
Seu nome era comum como o de tantas outras,
naquela terra árida o nome sempre se repetia,
mas Maria não se importava,
ainda hoje com espírito travesso que tinha a tantos anos atrás,
tem gosto de lembrar do seu velho e familiar sertão,
a casa de taipa que ela mesma ajudou sua mãe a construir.
No interior do interior,
para cidade mais perto era uma hora e meia de caminhada,
debaixo de sol quente,
mas pra vender a safra de algodão não tinha jeito
tinha que andar mesmo e sem reclamar,
reclamar que nada, cidade era novidade, gente nova,
diferente daquelas velhas estórias contadas na porta de casa
nada de homem morto ressuscitar no enterro,
ou de besta fera no redemoinho.
Depois de tantos anos longe de casa, do seu sertão, Maria até hoje não voltou,
essa é sua maior vontade,
rever sua casinha na terra seca, nem todas as paredes ainda estão de pé,
mas a memória fica.
Aquela infância sofrida mas viva é parte de quem se tornou,
vira e mexe de noite tem momentos de epifania e lembra de mais historias,
da professora que seu pai contratou para ensinar todos a pelo menos ler,
do resguardo das mulheres ao sangrar,
dos banho no açude,
da chifrada do bode,
da sua quase morte de fome, salva por guaraná, até hoje seu refrigerante favorito,
Maria também me contou que lá na roça quando menino chorava muito,
a cumadre logo dizia “dá cachaça pra esse menino parar de chorar”
e não precisava ser velho não,
bastava ter alguns dias de nascido
“deve ser por isso que os meninos são tudo doido”
disse Maria em outras dessas noites que abriu seu coração,
dessa vez o que a despertou foi o
Quinteto Violado
Missa do Vaqueiro.
*
Cholitas
Son muy bellas
llenas de fuerza
Madres
Luchadoras
Montañistas
Sindicalistas
Constructoras
de la gran nación Bolívia
Estan por todas las partes
En sus aguayos
cargan todo
sus hijos
y su sustento
Así son las Cholitas
fuertes
de corazon y de alma
Bajo sus polleras sus hijos tienen abligo
Hoy son resistencia cultural
Inspiran través de la fuerza feminina
son muchas
llenas de colores
despacitas
asi van
y hacen de todo
por todos
Gracias Cholitas!