Três Poemas de João Henrique Balbinot
João Henrique Balbinot, nascido em 1989, paranaense de interior, gosta de viver rodeado de músicas, palavras e pessoas. Quase sempre. Além de escritor, é também psicólogo. Como autor, publicou os livros de contos “No arco-íris do esquecimento” (Ed. Multifoco, 2012) e “Permeabilidades do Intransponível” (Ed. Patuá, 2016), e também os livros de poesias “Pequenezas e outras infinitudes” (Ed. Multifoco, 2014) e “O medo de tocar o medo” (Ed. Patuá, 2018).
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Elemento
Invoco todos os meus fluidos
A correrem em todos os líquidos terrenos
Enquanto me banho dos óleos essenciais
Candura
Me abrindo à fúria de todos os oceanos
As águas me convidam
Ante a tudo que transborda
Me ofereço
Evoco enxurradas
Aguço
*
Cardinal carne de todo (Elemento II)
Influir manso
As sete águas que me banham
Em seis dos meus fluídos se coadunam
Emulsificam-se a vida que finca suas presas
Em meus quatro tecidos que embalam
As vísceras desvalidas prontas a se liquefazer
Atraídas por ralos e absorvível solo
Ao caminho do núcleo da terra
Por onde algo escapa
Ainda que condenado ao centro
Imitando a noite seguida pela força da manhã
O amanhã, a conspiração dos líquidos difusos
*
Pião
Há pouco solto em um chicotear
Passo por entre nas voltas de um pião
Danço minha demência
Trepidando nas irregularidades do asfalto
Deixando meus riscos à mostra
Traços ignóbeis
Veículo de expressão
Como o riscar de giz que se pretende definitivo
Deixado ao esmaecer desse úmido calor
Perdendo força, perdendo graça
Até se encerrar em uma depressão distinta
Vacilando na perda de muitas forças
Ensaio minha última teimosia
Detrito perdido em atritos, cambaleio
Paro em meio ao trânsito
Atrapalhando toda sorte de indiferença
E pelas mãos de mil homens me sobreergo pela multidão
Como um barco levado pelo ondular do mar
Ajudado pela intempestuosidade da impaciência
Minha proa rasga as águas do dia em dois