Três poemas de Laura Navarro
Laura Navarro é uma incógnita, mas gosta de se dizer poeta e estudante de jornalismo. Nascida no bug do milênio, escreve poesia desde os 12 anos, tendo publicado os livros Clair de Lune (2016), Natasha (2017) e Sinestesia (2019), além do e-book Enclausurada (2020). Laura é uma menina-mulher e uma matryoshka incansável em suas camadas , com um modus operandi sempre intenso e metamorfo, que usa para alimentar seu blog: gothmatryoshka.tumblr.com
***
GRANDPA
Meu avô tinha
Duas línguas na boca
e corações
no lugar
dos olhos
Nos dias em que eu era
a menina mais feia da sala
ele se virava
e me chamava
Lóura linda
O mar
No meu nome, há um trecho
que, como o de Ophelia, tende a
se atirar ao salgado do mar
Coberta e lacrimejante
me despeço de algo que
jamais fora das minhas mãos paulistanas
Em um instante, viro sereia
viro peixe, viro tudo e viro nada
aprendo a coordenar minhas escamas
como quem escreve numa torta caligrafia
Este mar que se estende sobre mim é
uma pequena casa com vistas
para os versos de Sophia
que eu gritei com os pedaços jogados de minha
alma enquanto escrevia um poema contemporâneo
O gosto da água é sedento
mas mata a fome de um horizonte
maior do que o dos prédios
eu ainda não aprendi a controlar o meu anseio
de ser engolida pelas areias e pelos ventos
audácia minha seria a de se tornar algo
Mercado Municipal
Andar no limite
Dos outros
Nas
Frutas
Que eles
Deixaram
Escutar o burburinho cosmopolita
Como bandeiras de festa junina
fora de época
Há um arco-íris
Que não se encerra
Os
Passos
Na
Madeira