Três poemas de Lmar
Helimar (Lmar) nasceu em 1992 no interior de Pernambuco (Santa Cruz do Capibaribe) mas sua formação adulta foi em Recife, onde morou dos 18 aos 25. Agora mora em São Paulo, onde tem saudade do mar. Tem formação em Publicidade e Rádio e TV. De forma rápida foi aluno do CLIPE da Casa das Rosas (2018) e do vocacional de literatura da Prefeitura de SP (2017). Lançou dois livros de poemas de forma independente Fulguras (2015) e coração na sombra (2016). Tem textos publicados em blogs, páginas e antologias. Em 2019 lançará o livro Tubarão, também de poemas.
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orla
ninguém ouve o chiado do mar
dentro do carro blindado com ar condicionado.
ninguém sente o sal do mar
com cremes caros e meias grossas no quarto com ar condicionado
ninguém toma cerveja no calor que agita e desperta o desejo
se for no ar condicionado
ninguém fica bronzeado sentado na banheira aquecida
se for no ar condicionado
ninguém põe cangas no azulejo anti-derrapante
pensando no ar condicionado
ninguém corre na areia quente sem colocar chinelos resfriados
por ar condicionado
ninguém pega ondas médias sentado na sala
ouvindo o barulho do ar condicionado
ninguém alcança os sete mares abrindo a geladeira
que imita o ar condicionado
*
kaiak
embicado não enxergo
me guiam de volta para a ilha,
onde fico exposto, à venda, ao aluguel.
me lançam na água por dinheiro, aguento peido,
chute, cuspe, gozada, mijo, areia, merda e comprimido.
cabem em mim com toda vontade, até dois aguento,
cortar água eu sei,
nasci sabendo,
faço de cabeça baixa.
*
eu lembro
uma mulher vende (com prazer)
guitarras no calçadão
da praia
afina ali
uma mulher vende
guitarras na calçada de casa
na rua da concórdia
expõe as piores
toca as melhores (com prazer)
uma mulher vende guitarras
vê a rua
sorri pra rua
desejando respeito
porque é seu percurso
acender o som dessa orla
uma mulher vende guitarras
quebradas por manifestantes
prós e contra
na praça do derby
em cima do seu vestido
está o jogo de cordas
prontos para uso
amassados os cases quebrados
indicam lixo
salvo engano o amplificador se salvou dentro do bolso
agora faz o som com a boca
da saia
só os farrapos
arrastam no capim com terra
uma mulher vende guitarras
e não espera os homens