Três poemas de Luana Soares de Souza
Luana Soares de Souza é formada em letras pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e é doutora em estudos literários pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). Atualmente é professora da rede estadual, lecionando em Acorizal (MT). Selecionada entre os 10 melhores poemas no 1º Prêmio Pixé de Literatura em 2019.
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faz do meu ventre confessionário
penetra o seu silêncio mais profundo
no meu portal ancestral
lambe as minhas incertezas
sussura ecos surdos
nos meus ouvidos
aquilomba as suas chagas
no batuque das minhas veias
gera força vital
no útero das minhas memórias
desacorrenta seu sofrimento
nas águas da minha correnteza
que o meu corpo é porto sagrado
inunda quando você vem.
*
Tardança
As minhas paixões não são vividas
no caos da impaciência.
Meu coração é rendeira que borda,
pescador que espera,
cachaça curtida.
Uma de cada vez
as paixões se aconchegam
para que sejam completas,
sem medo do tempo,
ralador de humanidade.
Meu coração não é self service.
É panela de barro,
tempero do tempo,
armadilha que sabota o efêmero.
Sem jogo, nem regra,
só dança, festa,
canto, reza.
Meu coração
é procissão
da eternidade.
*
Fiz a lista de compras
e a de tarefas.
Lavei o banheiro
guardei os copos
reguei as plantas
dei comida aos gatos
Nada fora do lugar.
De que adianta
se por dentro
estou revirada?