Três poemas de Lucinda Nogueira Persona
Lucinda Nogueira Persona nasceu em Arapongas-PR, radicada em Cuiabá desde 1965. Poeta, ficcionista, cronista, ocupa a cadeira nº 4 da Academia Mato-grossense de Letras. Graduada em Biologia (UFMT), Mestre em Histologia e Embriologia (UFRJ), com estágios profissionais na Universidade do Chile. Professora aposentada (UFMT / UNIC). Livros publicados (Poesia): Por imenso gosto (Massao Ohno, 1995), Ser cotidiano (7Letras, 1998), Sopa Escaldante (7Letras, 2001), Leito de Acaso (7Letras, 2004), Tempo comum (7Letras, 2009), Entre uma noite e outra (Entrelinhas, 2014).
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O dia
Nascido em todos os rostos
o dia sobe até o ápice
—————-Talvez até o calvário
—————-por um peso que carrega
No seu ponto mais alto
no seu vértice incendiado
—————-faz a curva e desce
(menos que vertiginoso)
E enquanto desce
é como imprimir no muro:
—————-a tarde ainda não morreu
—————-apenas pende para um lado
—————-com a luz às costas
A brisa e o sopro de palavras
ganham distâncias indiscerníveis
Não há dia que não traga em si
o favor de uma tarde
um céu bom de se olhar
e a oscilação de uma folha
(afogada no ar).
(In: Revista Brasileira – Ano V, n. 87 Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 2016).
*
Ruído singular
Caminho pelo parque
ao músico crepitar das folhas secas
(o verso é o encontro repentino
de um ruído singular?)
Com outros pés segue a tarde
compondo secretas pegadas
E vai também o vento
não bem andando (ele corre)
a rasgar-se nos entraves
Persistente, invisível
no seu estilo de vento mesmo
que passa e não volta
que passa e não volta
Convivo com tantos modelos!
*
Lua acesa
Começa a noite
————Já por aí
a lua acesa
a renascer
Veio com tudo
Veio pra valer
De peito aberto
Leitosa e plena
A roliça nudez boiando
rente ao topo do edifício fronteiro
Estar na cobertura é poder tocá-la
Tão macia aos dedos – carne de peito
Calma, calma
Cara de noiva
(grávida)
Vai arder na amamentação
————Impossível não repetir – lua de leite
E não parece sem alma.