Três poemas de Maria Cleunice Fantinati da Silva
Maria Cleunice Fantinati da Silva é professora na área de linguagens no Instituto Federal de Mato Grosso – Campus Avançado Tangará da Serra e Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários – Universidade do Estado de Mato Grosso.
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HABITAT EM CHAMAS
Escuro “céu”
Fuma “céu”!
Aspira as queimadas…
Que escondeu o sol …
E envergonhou as estrelas.
Envolta as nuvens estão
de fuligens escondidas
num grafitado tom…
sufocadas …
As serras magoadas não se vestem de verde…
Os rios margeados de labaredas…
São despidas suas margens…
Árvores são vencidas pelo fogo.
Não resistem as folhagens …
Tão pouco o capim nativo,
Que sustenta animais…
As águas evaporam … dos rios assoreados
Sedentos… são queimados vivos …
Os habitantes da natureza…
O vento espalha o fogo
Os gemidos dos animais …
Desesperados buscando saída
Do seu próprio habitat …
Morrendo sufocados as margens das rodovias…
Quando não atropelados pela pressa
Dos “tais” donos do mundo.
Onde está o mato
Deste Estado?
Que se vestia de beleza
A exuberância de seus rios,
E toda sua verde natureza,
Teto de tantas vidas…
Onde está a diversidade da flora e fauna?
QUEIMADA!!!
Dos céus esperam aqueles que lutam contra as queimadas…
Que as nuvens derramem suas lágrimas …
Que a chuva apague o fogo que se alastra…
Que a chuva lave os olhos da ganância.
Que das cinzas rebrotem a beleza…
Desta terra devastada…
Pela falta de limite …
Do maldito homem
Egoísta que não sabe dividir…
Porque é totalmente capitalista.
Devasta … devasso…
Polui… contamina… queima … mata a mata…
Quer lucro …sempre mais …
Vende a madeira…
Vende o minério ….
Vende a pele dos animais …
Vende o próprio animal…
Homem irracional.
*
FOTOGRAFIA
Na mente eu guardo a fotografia
Do rio Teles Pires.
Quando o rio tinha vida
E as Matrinchãs saltantes
Alimentavam-se as margens do rio…
Vasta vegetação que parecia tão intacta.
O capitalismo mecanizou o rio
Vestiu suas margens de uma nova roupagem.
De agricultura ou de pastagens…
Nunca mais …
Verei aquelas águas correndo com tanta força
E a beleza natural que o margeava.
O Teles Pires se envergonhou…
De sua nudez…
Encolheu …
*
MEU LUGAR
No livro de geografia eu conheci o cerrado.
Adentrando Mato Grosso,
Pela primeira vez,
no período seco.
Minhas retinas captaram
A imagem desta vegetação.
Causou- me estranhamento…
árvores tão tortas, tão pequenas, tão esparsas…
Chorei de saudades de minha terra…
Mas o tempo me fez esquecer
Hoje não sou de lá.
Este clima me aqueceu
E o frio minha pele esqueceu.
Grande em expansão territorial
Nem tudo conheci,
Mas tudo que aqui vivi …
Nada mais quero de lá.
Deitei-me na natureza …
E renasci.
Tomei banhos de cachoeiras.
Lá nas margens do Sepotuba
Conheci os carandazais…
E o do pacu comi a cabeça
Me batizei mato-grossense.
Daqui não saiu mais…
Armei a rede nos buritizais…
Não contei as picadas das muriçocas …
Na vegetação descobri as plantas medicinais.
Meus olhos contemplaram
No Rio Paraguai a vitórias régia
Vi os campos inundados …
A se perder de vista.
Aves de tantas cores
Desenham-se na minha mente…
Araras vermelhas, azuis …
E tantas outras…
As emas e seriemas
Sem exuberância de cores…
Mas se destacam
Uma por se a maior ave da região
A outra pelo seu canto na alvorada.
Seriema relógio do pantanal.
Ao amanhecer e ao pôr do sol…
A temida sucuri
Tomando sol do meio-dia.
Nas estradas de terra…
No meio da mata
Meus olhos fotografaram
A onça pintada, bandos de caititu e de queixada…
Três biomas em um só estado:
Amazônia, Cerrado e Pantanal.
São tantas as belezas naturais …
Que nestas páginas não caberiam…